
CIO europeu colocou a boca no trombone. Foto: Pexels.
Entidades representando milhares de CIOs enviaram uma carta para o parlamento europeu com queixas sobre as práticas de licenciamento das nuvens da Oracle e Microsoft.
Na carta, as entidades fazem referência a um estudo recente do CISPE, uma associação que reúne provedores de nuvem europeus, apontando práticas dos grandes provedores que prejudicam os clientes.
O relatório aponta, por exemplo, que a suíte de produtividade da Microsoft tem um preço de licenciamento maior caso o cliente queira usar outra nuvem que não seja a Azure, e que a empresa eliminou os acordos do tipo “Bring Your Own License”, tornando mais caro a migração de software on premise.
A Oracle também foi criticada pela suas práticas de cobrança, que também diferenciam entre a sua nuvem e a nuvem de terceiros.
O relatório também aponta mudanças constantes nas práticas de licenciamento e termos de uso “deliberadamente vagos”, visando aumentar os custos uma vez que os clientes já não conseguem mover suas cargas de processamento, o chamado lock in.
“As conclusões do estudo provam uma variedade de práticas injustas sendo usadas para privar os membros das nossas organizações de escolhas e os nossos clientes de produtos mais inovadores”, resumem as entidades na carta, divulgada pelo The .
O texto afirma ainda que provar a ilegalidade dessas práticas exigiria longas investigações, sob a regulamentação atual de competição, durante as quais as organizações não têm alternativas e podem sofrer “medidas retaliatórias”.
“Isso significa que as organizações vão simplesmente aceitar termos de uso caros e injustos”, resume a carta, assinada por entidades como a alemã Voice, que representa 400 CIOs e a sa Cigref, que agrupa 150 grandes usuários, incluindo nomes como a Airbus.
Em entrevista para o The , Hans-Joachim Popp, do grupo alemão Voice, pede o estabelecimento de APIs e standards operacionais para assegurar a compatibilidade entre diferentes provedores.
“Hoje, esses standards são proprietários e podem ser mudados aleatoriamente por razões de marketing. Com features especiais um provedor de nuvem pode ter um lock in quase sem nenhuma saída”, resume Popp.
Não é de hoje que vem a insatisfação de governos e grandes corporações europeias com os grandes provedores de computação em nuvem, que, vale lembrar, são todos sediados nos Estados Unidos.
No ano ado, a União Europeia lançou Gaia-X, uma organização sem fins lucrativos que visa constituir uma alternativa europeia no mercado de computação em nuvem.
A iniciativa une 22 grandes empresas, incluindo gigantes de manufatura como Siemens, BMW e Bosch, operadoras de telecomunicações como a Deutsche Telekom, o maior player europeu de data center, a sa OVH Cloud (cujos data centers andaram pegando fogo) e empresas de tecnologia como SAP e Atos.
O objetivo do Gaia-X é criar as regras pelas quais provedores de serviços na nuvem podem interoperar estando compliance com regulações da União Europeia, visando garantir segurança de dados e transparência.
Como na prática o Gaia-X deve oferecer uma alternativa aos players já estabelecidos não fica muito claro, mas dá para imaginar que a União Europeia pode criar regulação que torne a vida dos competidores mais complicada, enquanto fomenta o desenvolvimento da sua alternativa.
A pressão política dos grandes clientes junto ao parlamento europeu é parte desse contexto.