
Carlos Roberto Fortner, em algum ato em Brasília. Foto: Washington Costa/MDIC
Carlos Roberto Fortner, presidente dos Correios no governo Michel Temer (MDB) e aliado do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), acaba de ser nomeado diretor-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, o ITI.
O ITI é a autarquia federal que regula o uso de certificados digitais no Brasil, com um orçamento anual de R$ 46 milhões.
Falando em termos mais técnicos, o ITI é a Autoridade Certificadora Raiz, de onde provêm as diretrizes para a emissão dos certificados digitais por autoridades certificadoras de acordo com regras estabelecidas pelo Comitê Gestor da I-Brasil.
As diretorias de Infraestrutura de Chaves Públicas e de Auditoria, Fiscalização e Normalização também mudam. José Camilo de Oliveira Nagano e Luís Eduardo Ciaccio as assumem, provavelmente outras indicações do PSD.
Com a entrada de Fortner sai da presidência do ITI Marcelo Amaro Buz, nomeado em janeiro de 2019.
"Não posso deixar de reconhecer a frustração de ver muito do que queríamos não sair como planejado. A política tem dessas nuances", disse Buz em um grupo de whatssapp que reúne empresários e funcionários do setor de tecnologia, de acordo com a CNN.
Buz chegou no cargo de presidente do ITI, por uma dessas “nuances”, vindo diretamente de São Leopoldo, cidade de 213 mil habitantes na região metropolitana de Porto Alegre, onde era vereador em primeiro mandato pelo DEM.
Ele foi uma indicação de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil do Brasil.
O ITI pode parecer pouca coisa, mas ele é a base de um mercado enorme no país.
De acordo com dados da Associação Nacional de Certificação Digital (ANCD) R$ 6,6 trilhões por ano são transacionados por ano usando certificados digitais no Brasil.
Entre janeiro e outubro de 2018, foram emitidos 3.781.133 certificados no país, uma alta de 26,11% frente aos números do mesmo período do ano anterior.
O mercado de certificação digital cresce na faixa dos dois dígitos, embalado pela contínua introdução de novidades que exigem certificados digitais pela parte do governo, desde a nota fiscal eletrônica, uma década atrás, até o eSocial hoje em dia.
Em termos políticos, a nomeação de Fortner marca a entrega do primeiro órgão ligado ao ecossistema de tecnologia e inovação do governo federal para o chamado Centrão, grupo de partidos com os quais o governo Bolsonaro está negociando cargos em troca de apoio no Congresso para barrar um possível impeachment.
Dentro do Centrão, o PSD parece ser o dono natural do tema Ciência e Tecnologia.
Kassab, um dos líderes do partido, foi ministro de Ciência e Tecnologia de maio de 2016 até janeiro de 2019, durante o governo Temer (fazendo justiça à reputação do Centrão de apoiar qualquer governo, Kassab também foi ministro das Cidades na istração Dilma).
Por enquanto, o Centrão está comendo pelas bordas, indicando pessoas para cargos de segundo e terceiro escalão no governo.
De acordo com o Centrômetro, um site lançado pelo MBL, até agora foram 16 cargos entregues para os partidos do Centrão, incluindo posições na Funasa, IPHAN, ATT, Iphan e outros órgãos.
E O MINISTÉRIO?
No final de abril, quando começou a aproximação de Bolsonaro com o Centrão, circularam rumores sobre um possível novo ministro de Ciência e Tecnologia.
Segundo revelou a coluna Radar da Veja, Bolsonaro teria conversado com o deputado Fábio Faria (PSD-RN).
Ele teria "caído nas graças do presidente e de seu núcleo familiar” pelo fato de ser genro do dono do SBT, Sílvio Santos.
Faria tem também uma dose de "pedigree" político, sendo filho do ex-governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, e deputado federal desde 2006, ficando normalmente entre os quatro mais votados no estado.