
Brasileiro: "Eu não aguento mais". Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O Brasil está entre os países no mundo onde mais profissionais de tecnologia desejam fazer carreira no país, com 87% do total.
O resultado é de um estudo de profissionais chamados “experts digitais” realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) e pela The Network em 180 países.
O público estudado pelas consultorias é de profissionais sênior em áreas como programação e desenvolvimento web, desenvolvimento de aplicativos, inteligência artificial, robótica. Dos pesquisados, 80% tem formação superior e 38%, alguma pós-graduação.
Em geral, esse tipo de profissional tem em seus planos sair pelo menos por um período do seu país: das 27 mil pessoas pesquisadas, 67% disseram que gostariam de fazê-lo.
Dentro desse universo, no entanto, existem discrepâncias. Com seus 87% de potenciais imigrantes, o Brasil fica na parte alta do grupo de países com disposição acima de 70% para emigrar, que inclui outros países em desenvolvimento como Argélia, Equador, Irã, Índia e Peru.
O grupo dos muitos dispostos a emigrar tem algumas exceções a essa regra, como Canadá, Reino Unido e Cingapura, onde a predisposição poderia ser explicada pela grande quantidades de estrangeiros já existentes no mercado, talvez mais propensos a migrar mais uma vez.
A lista dos "bairristas", países dos quais pelo menos 45% dos entrevistados não querem emigrar, é encabeçada pela China, com 75% de profissionais que querem ficar no próprio país. Também estão nesse grupo Croácia, Hungria, Indonésia, Israel e Eslováquia.
Os Estados Unidos, citados por 63%, aparecem como destino de preferência do brasileiro, seguidos de Canadá (51%), Portugal (37%), Alemanha (34%) e Austrália (37%).
Outro problema para o Brasil é que há poucos profissionais dispostos a vir para o país, que ocupa a 23ª posição no ranking geral de atratividade.
Os estrangeiros que mais têm vontade de trabalhar no mercado digital brasileiro são de Angola (35%), Peru (34%), Argentina (29%), Costa Rica (22%) e Nicarágua (17%).
HORA DE PARTIDA?
Os números da pesquisa estão de acordo com o que outros levantamentos já mostraram em relação ao Brasil.
Em julho do ano ado, o Datafolha divulgou que Quase a metade (43%) dos adultos brasileiros sairia do país se tivesse condições, uma cifra que aumenta nas camadas mais jovens, melhor educadas e com mais renda da população.
O número total é 70 milhões, o equivalente a população de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.
Por faixas etárias, o desejo é mais forte quando mais jovem é o pesquisado. Assim, o interesse por emigrar chega a 62% entre pessoas entre 16 a 24 anos, que cresceram em meio a crise econômica e política. É o maior índice entre todas as faixas pesquisadas.
Para pessoas entre 25 a 34, no começo da vida profissional, a cifra é 50%. Na faixa seguinte, entre 35 e 44, ela cai um pouco, para 44%, chegando a 32% entre 45 a 59 e 24% na de 60 anos ou mais.
Quando o corte é por nível educacional, a resposta é positiva para 56% dos pesquisados com nível superior, 48% para nível médio e 27% para nível fundamental. Já por classes sociais é 51% para AB, 44% para C e 30% para DE.
NA PRÁTICA
É preciso ser cauteloso na interpretação dos resultados. Apesar de milhões manifestarem interesse em sair do país, o Brasil não está em meio a um êxodo de proporções bíblicas.
Dados oficiais da Receita Federal mostram que 91 mil pessoas entregaram declaração de saída definitiva do país desde 2014.
O número de vistos para imigrantes para os EUA foi de 3,366 em 2017, o dobro de 2008, mas um cifra na casa dos milhares.
A cidadania portuguesa, um caminho mais ível para imigração, teve 50 mil concessões só no consulado de São Paulo desde 2016, mas o número não significa necessariamente que o beneficiado tenha se mudado.
Em outubro de 2017, o Estado de São Paulo revelou que os primeiros sete meses de 2017 haviam sido emitidos 185 dos chamados Golden Visas para brasileiros em Portugal.
É a metade do total que havia sido emitido desde a criação do visto, em 2012. o Golden Visa exige investimento em empresas ou compra de imóveis.
Em qualquer caso, o grande número de interessados em emigrar, principalmente entre as camadas da população com mais condições reais de fazer isso pode ser lido como um raio-x do estado de espírito pouco otimista do brasileiro.