
Bezerra da Silva: "Se segura malandro, para tomar a vacina tem hora". Foto: RCA.
As vacinas contra o coronavírus aplicadas “por fora” em empresários, políticos e familiares em Belo Horizonte podem ser falsas.
Pelo menos, essa é uma das hipóteses com as quais trabalha a Polícia Federal, junto com as vacinas terem sido importadas ilegalmente, desviadas do Ministério da Saúde.
Segundo fontes ligadas à investigação disseram ao R7, a hipótese da falsificação é reforçada pelo fato de que os insumos encontrados na casa da suposta enfermeira que aplicou as vacinas não estarem refrigerados.
Qualquer uma das vacinas disponíveis para uso precisa ser refrigerada. A vacina da Pfizer, que os organizadores do esquema acreditaram ter comprado, é uma das mais exigentes nesse quesito.
A vacina da Pfizer, tida como um produto de “grife”, não está disponível no Brasil ainda, o que significaria um complicador adicional para obter as doses.
A previsão do laboratório é entregar a primeira remessa a partir de abril, chegando a até 100 milhões de doses até o final de 2021.
Assim, parece difícil que alguém possa ter obtido a vacina por contatos fora do país para vender no varejo em Belo Horizonte.
Mais difícil ainda é acreditar que alguém se dê ao trabalho de aplicar uma outra vacina sob o rótulo da Pfizer. Uma vez que se começa a mentir, é mais fácil injetar diretamente água com açúcar em incautos.
Também reforça a hipótese de falsificação a ficha dos investigados pela PF, uma mãe e um filho. A mulher é cuidadora de idosos, tem agem policial por furto e estava se fazendo ar por uma enfermeira.
Os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da empresa de transportes Saritur, itiram em depoimento à Polícia Federal, que compraram vacinas contra a Covid-19.
As doses foram aplicadas na garagem da empresa, um dos maiores conglomerados de transporte de ageiros do estado de Minas Gerais.
Segundo a revista Piauí revelou na semana ada, as vacinas foram aplicadas a um grupo de cerca de 50 políticos, empresários e familiares.
A próxima seria dada em 30 dias. As duas doses teriam custado R$ 600 por cabeça.
O ex-senador Clésio Andrade, ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), confirmou à Piauí ter tomado a vacina, a convite dos organizadores, sem pagar.
A falsa enfermeira teria vendido outras doses da vacina, assim ainda não está clara a extensão do golpe.
A Piauí procurou a Pfizer, que negou ter vendido seu imunizante no Brasil “fora do âmbito do programa nacional de imunização” e disse que o imunizante “não está disponível no território brasileiro”.
O Ministério da Saúde enviou uma nota na qual diz que “as doses contratadas pela pasta da Pfizer/BionTech ainda não chegaram ao Brasil”.
Os milhões de brasileiros que esperam na fila pela sua vacina podem ter agora o que seu momento de Schadenfreude, palavra em alemão que significa a alegria gerada pelos percalços de outrem.
Mas vale lembrar que mesmo que a vacina fosse quente, a vacinação clandestina é ilegal.
A lei prevê que organizações que quiserem adquirir a vacina por conta própria devem inicialmente doar todas as doses ao SUS até que os grupos de risco – 77,2 milhões de pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde – tenham sido plenamente imunizados em todo o país.
Depois, as vacinas compradas pela iniciativa privada devem ser divididas meio a meio com o SUS, numa operação fiscalizada pela pasta. O Brasil vacinou com a primeira dose de alguma vacina cerca de 17 milhões de pessoas até agora.