
Ser um laranja, ou Lara, virou uma carreira no Brasil. Foto: Depositphotos.
Pessoas comuns estão alugando suas contas bancárias para golpistas por meio de grupos na Internet, em troca de uma comissão sobre as transferências oriundas de fraudes.
As contas bancárias laranja são chamadas de “Laras” e são temas de um movimentado mercado no submundo da Internet revelado por um estudo da Tempest, uma empresa brasileira de segurança.
A Tempest coletou material em grupos fechados de WhatsApp, Facebook, Telegram ou por meio de contas abertas no Twitter.
A modalidade menos sofisticada de conta Lara é uma pessoa que oferece a própria conta bancária em troca de uma comissão sobre as transferências.
Em alguns casos colhidos pela Tempest, pessoas pediam comissões de 45% dos valores, oriundos de diferentes tipos de golpes que se aproveitam do Pix.
Há casos em que o locador exibe até os cartões, todos em seu nome, das contas que tem para alugar. Às vezes, o candidato a laranja dá justificativas, como dificuldades financeiras.
Um grau mais sofisticado de fraude são pessoas que emprestam seus rostos para validar a abertura de contas correntes digitais.
Com o uso de documentos falsos, criados utilizando a fotografia da pessoa cooptada, o fraudador abre a conta e gera um link para que o laranja faça a validação de prova de vida por meio de selfie e confirmação de imagem para abrir a conta.
Em um caso selecionado pela Tempest, o fraudador solicita empréstimos e, após receber os valores, promete pagar R$ 2 mil, por cada contrato de empréstimo aprovado no nome da vítima da fraude.
Nesse caso, os fraudadores precisam de voluntários com idades compatíveis com os das suas vítimas, das quais obtiveram os dados por vazamentos disponíveis na Internet ou outros golpes, como a entrevista falsa de emprego.
Nas comunidades monitoradas pela Tempest, um dos temas do debate é a busca por bancos digitais menores, com menos requisitos de segurança para abertura de conta (o famoso "onboarding digital").
O número de estelionatos no Brasil aumentou 326% nos últimos cinco anos e os golpes eletrônicos 66% no último ano, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023.
A Tempest afirma ser a maior companhia brasileira especializada em cibersegurança e prevenção a fraudes digitais. Sediada no Recife, a Tempest conta também com escritórios em São Paulo e Londres, com mais de 500 colaboradores.