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Ricardo Vontobel.Foto: Gláucia Civa
A Endeavor, organização internacional de apoio ao empreendedorismo, abriu na terça-feira, 03, sua sessão no Rio Grande do Sul, que tem como mantenedores e mentores Nelson Sirotsky, presidente do Grupo RBS, José Galló, da Lojas Renner, e Ricardo Vontobel, da Vonpar.
Quem sabe, ensina
No evento de inauguração, que marcou a primeira edição do CEO Summit fora de São Paulo, os executivos narraram lições de empreendedorismo, como a de Galló, que assumiu em 1992 uma rede varejista com nove lojas no estado e hoje a de 194, com previsão de abertura de novas 30 ainda este ano.
“Era uma rede que precisava e podia crescer, ir à categoria de empresa nacional”, afirma Galló.
Nos anos 90, foi avaliado que tal o demandaria cerca de US$ 80 milhões em investimentos, o que não seria possível mantendo a estrutura de gestão faimiliar. Galló buscou, então, um sócio, o que fechou na parceria com a norte-americana J.C.Penney, que assumiu o controle acionário da Renner em 1998, quando a família Renner se retirou do negócio.
Hoje, a Renner é uma “corporation, ou seja, uma empresa sem dono”, na definição de Galló,capitalizada, com faturamento atual médio acima de R$ 6 milhões por loja.
“Empreendedorismo é isso: acreditar, buscar, e principalmente ter paixão. Gostar do que se faz leva a enfrentar desafios, aceitar perdas, recomeçar”, afirmou Galló.
Fábrica de Líderes
Na Renner, também há a preocupação em compartilhar a filosofia do empreendedorismo.
A rede mantém uma Fábrica de Líderes, com treinamentos para gerentes de lojas, gestores de departamentos e outras funções, focada não só em capacitação técnica e comercial, mas especialmente com foco na gestão.
“Formamos 150 gerentes por ano. Só em 2011, fornecemos 147 horas de treinamento por pessoa”, orgulha-se Galló.
Reciclando uma história
Ricardo Vontobel, presidente do Conselho da Vonpar, também avalia a busca incessante pela melhoria como a maior qualidade do empreendedor.
“Quando houve a transição das bebidas engarrafadas em envases retornáveis, de vidro, por pets plásticos e latas, tivemos de triturar 40 anos de história e iniciar um novo modelo de negócio”, narrou Vontobel.
Para ele, entretanto, a palavra de ordem de uma empresa é “inquietação”.
O processo de transição do vidro para o pet levou cerca de 15 anos na Vonpar, mas não atrapalhou em nada a ascensão da companhia: hoje, a Vonpar mantém fábricas em Porto Alegre, Santo Ângelo, Antônio Carlos-SC, e centros de distribuição em Blumenau, ville, Chapecó, Farroupilha e Pelotas.
A empresa gera mais de 3,35 mil empregos diretos e tem participação de 10% do volume total de vendas do Sistema Coca-Cola no país. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, é líder do mercado de refrigerantes.
Não dá pra se acadelar!
A expressão é do presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky, e refere-se à persistência.
“Não sei se todos conhecem esta expressão, mas costumo dizê-la a meus filhos, meus parceiros, meus colaboradores, quando as coisas exigem desafios. Não dá para se acadelar, ou seja, não dá para arrefecer, ter medo: é preciso tomar riscos, criar oportunidades, enfrentar e crescer”, destacou o empresário.
Segundo Sirotsky, na década de 70 ele próprio chegou a se demitir da RBS, quando seu patrão e pai, Maurício Sirotsky, lhe negou a execução de um projeto de excursão para acompanhar a seleção brasileira de futebol.
“Eu capitaneava este projeto como forma de fazer crescer a Rádio Gaúcha, que na época tinha cerca de 10% de audiência, enquanto a Guaíba tinha 90%”, relembrou Sirotsky. “Mas tivemos problemas, como um incêndio na casa de máquinas de Zero Hora, que nos deu prejuízos, e meu pai me disse um sonoro não para a iniciativa. Eu a havia abraçado, envolvido outras pessoas... Me demiti”, contou.
Em alguns dias, segundo o executivo, a empresa conseguiu contornar os problemas, o reitiu, e a excursão com a seleção aconteceu.
De lá para cá, a história fala por si: hoje, o Grupo RBS tem mais de 6 mil funcionários e é o segundo maior empregador de jornalistas do país.
O guarda-chuva da marca abrange rádios, veículos impressos, TV e operações digitais, como Pontomobi, especializada em mobile marketing, sites de classificados e compras coletivas, como Pense Carros, Pense Imóveis, C2Rural, Desejomania e Eu Comparo, entre outros.
Em 2010, a RBS Comunicações teve lucro líquido de R$ 174 milhões.
Mentoring
O presidente do conselho da Endeavor no Brasil e também presidente da Totvs, Laércio Cosentino, também palestrou no evento de inauguração da ONG em Porto Alegre.
Criador da atual maior empresa nacional de software de gestão, segundo dados do IDC, Cosentino não precisou narrar mais do que sua já conhecida história empresarial para dar suas lições de empreendedorismo.
“Na época em que Bill Gates anunciou sua previsão de que um dia todo lar teria um PC, parei para pensar no âmbito empresarial. Imaginei que, se cada casa teria um PC, imagine as pequenas empresas – seriam dezenas, centenas, milhares de computadores. Era preciso fazer um sistema para rodar a gestão destas pequenas empresas”, contou o executivo, que então fundou a Microsiga.
Hoje, a Microsiga pertence à Totvs, assim como Datasul, RM e outras marcas. A dona de tudo tem cerca de 26 mil clientes em 23 países, é líder em softwares aplicativos no Brasil e América Latina e a 7ª maior do mundo em sua área.
Não foi um caminho fácil. A estratégia de expansão por meio de aquisições, adotada na década de 90, foi uma trilha árdua, segundo Cosentino, mas compensou.
A companhia cresceu, incorporou concorrentes, e, como resultado disso, arrecadou R$ 460 milhões na abertura de capital mais rentável da última década, quando realizou seu IPO em 2005.
E a Totvs quer mais.
“Entramos agora na quinta fase da empresa, que é voltada a torná-la um referencial mundial”, comenta Cosentino.
Objetivo ousado, frente a um cenário que inclui concorrentes como SAP e Oracle, por exemplo.
Nada que a Totvs tema: de acordo com o presidente, a empresa tem saúde e empreendedorismo de sobra para buscar a meta.
“O Brasil tem poucas marcas referência no exterior. Nós seremos isso, nós traremos isso para o país”, destacou.
Endeavor
A Endeavor não apoia empresas ou projetos, mas empreendedores nos quais vê potencial de “alto impacto”, conforme definição de Juliano Foster, coordenador da ONG no Rio Grande do Sul.
Hoje, segundo ele, 80 potenciais projetos já foram mapeados no estado, mas a meta é elevar este número para 300 ainda em 2012.
A peneira para os selecionados e apoiados, entretanto, é bem estreita. Tanto que a meta é apoiar “ao menos uma” empresa no estado este ano.
“O que fazemos é ampliar os projetos por meio de uma rede de contatos e dos venture corps, voluntários bem-sucedidos em suas áreas de atuação com conhecimento em diferentes disciplinas e disposição para disseminá-lo por meio de mentoria”, afirma o coordenador. “Mas o processo de seleção é longo, envolve cerca de seis meses”, completa.
Hoje, a Endeavor soma cerca de 300 mentores no Brasil, onde está desde 2000, com apoio da Ernst&Young e Terco.
A organização é mentora de 49 empresas e 102 empreendedores, com faturamento entre R$ 3 milhões e R$ 50 milhões, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.