
O sonho acabou. Foto: Deposiphotos.
A XP vendeu o terreno no qual planejava construir uma nova sede ao estilo dos grandes campus nas empresas do Vale do Silício, um grande plano (“sonho grande”, em corporativês) lançado em 2020, no auge do coronavírus.
A revelação é do InvestNews, que teve o aos documentos enviados pela XP ao Cade sobre a venda do terreno de 500 mil metros quadrados em São Roque, na região metropolitana de São Paulo.
O comprador é a JHSF, empresa que estava responsável pela construção do projeto (a JHFS já opera um grande outlet e um aeroporto de aviação executiva na região).
Para a XP, fica agora o prejuízo do que um executivo da corretora definiu recentemente (de maneira anônima, é claro) como um “delírio da pandemia”.
Segundo fontes da InvestNews, a brincadeira ficou em R$ 400 milhões (98,6 milhões somente pelo terreno).
Ao Cade, a XP se limitou a dizer que a venda do terreno “está em linha com sua decisão comercial de não dar seguimento ao projeto de construção de nova sede no imóvel em questão”. Procurada pela Investnews, a XP não comentou.
O fim do projeto da “Villa XP”, é um desses sinais que refletem a mudança conjunto de ideias, valores e tendências culturais, intelectuais ou sociais que definem uma determinada época, o famoso “Zeitgeist”.
Quando o projeto surgiu, no auge da pandemia de covid-19, quando o modelo full home office parecia um caminho sem volta (a própria XP disse isso aos seus funcionários).
Ao mesmo tempo, o estado pós-apocalíptico das grandes cidades alimentava visões como construir uma sede no meio do verde, para a qual executivos se deslocariam em jatinhos.
“amos a nos perguntar: e se pudéssemos ter em casa infraestrutura igual ou melhor que a do escritório? E se transformássemos a XP em um estilo de vida, um estado de espírito, atingindo níveis de engajamento nunca pensados até então? E se reinventássemos o nosso escritório para receber todos os stakeholders com experiências nunca antes imaginadas?”, escreveu num documento interno da época o CEO da XP, Guilherme Benchimol.
Depois de anunciar o projeto em São Roque, a XP devolveu andares no condomínio São Paulo Corporate Towers, localizado na Avenida Faria Lima, em São Paulo.
Com o projeto dando sinais de que não iria para frente, a empresa precisou reaver andares no mesmo prédio já em 2022.
O "sonho grande" de São Roque pode ter acabado mal, mas é preciso pôr as coisas em perspectiva.
A XP fechou o terceiro trimestre com um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, crescimento de 6% em relação ao período entre abril e junho e de 9% na comparação de 12 meses atrás.
Ao fim de setembro, o total de ativos sob custódia da XP alcançou R$ 1,2 trilhão, com incremento de 4% no trimestre e de 12% em 12 meses.