
Roberto Setúbal. Foto: Divulgação.
Roberto Setúbal, presidente do conselho do Itaú Unibanco, tem se “angustiado toda noite”, pensando nos novos concorrentes dos bancos no mercado financeiro, as chamadas fintechs.
O executivo abriu seu coração sobre o assunto durante uma reunião realizada com analistas e investidores na última terça-feira, 03.
“Estamos vivendo um mundo em grande transformação. Não temos resposta para o que queremos e isso nos angustia toda noite… fintechs estão batendo na nossa porta todo dia. Estamos discutindo bastante isso no banco”, afirmou Setúbal.
Outro participante da reunião, o vice-presidente de riscos e finanças do banco, Milton Maluhy, disse que ajustes como o programa de desligamento voluntário tem sido feito para enfrentar a forte concorrência com as fintechs.
Setúbal, no entanto, se mostrou cauteloso com grandes viradas no modelo de negócio, como se espera do atual líder de uma dinastia que data do Brasil Império, à frente do Itaú desde 1994, período no qual o banco entrou entre os 10 maiores do mundo em valor de mercado.
“Não gosto de apostas. Grande aposta é sempre um risco muito grande de dar errado e normalmente dá errado. A governança tem o papel de manter a coisa controlada, mas o banco está aberto a transformações em um ambiente em que o mundo está mudando”, disse Setubal.
O presidente do Itaú fechou a conversa numa nota confiante: “Saberemos enfrentar desafios que estão surgindo. Algumas coisas não vão mudar… vamos nos reinventar, nos adaptar. O futuro está aí. O banco sabe dos desafios que tem”.
É interessante de se observar a distância que separa a conversa de Setúbal com os analistas com uma manifestação pública sobre o assunto feita em 2016.
Na ocasião, fazendo um dos keynotes do Ciab Febraban, o executivo afirmou que os os bancos brasileiros poderiam encarar com relativa tranquilidade o fenômeno das fintechs.
“Se as margens ficarem menores, os custos precisam ficar menores. A equação vai seguir fechando se os bancos souberem trabalhar direito”, resumiu Setúbal, na ocasião.
Muita coisa mudou desde então, incluindo a qualidade e a quantidade de fintechs em operação no país.
Em julho, o Nubank foi avaliado em R$ 10 bilhões, um marco histórico para o mercado de fintechs.
Capitalizadas, fintechs como Nubank e Banco Inter também não sofrem a pressão por lucratividade de um banco estabelecido.
“As fintechs têm licença para perder dinheiro. Se permitissem essa mesma licença ao banco, o regulador ficaria preocupado”, agregou Candido Bracher, CEO do Itaú Unibanco, no mesmo evento.
O número de fintechs em operação no Brasil só aumenta. Entre agosto de 2018 e julho deste ano a cifra total aumentou de 453 para 604, um aumento de 151 empresas, um salto de 33%, segundo dados do Radar FintechLab.
Dentro desse grupo, o bloco de iniciativas dedicadas a conceder empréstimos chega a quase 100, as de pagamentos 151 e as de investimentos 38.
Todos são mercados nos quais o Itaú atua.