
Luís Fernando Saraiva.
É um prazer retornar ao Baguete depois de quase 15 anos! Obrigado pelo convite, Maurício. Obrigado e desculpas! Esta coluna deveria ter ido ao ar há alguns meses, mas acabei sofrendo um “bloqueio conceitual”.
Meu objetivo inicial era aproveitar uma viagem à Índia e falar de inovação lá versus o ambiente de inovação aqui, mas não encontrava a melhor forma de tratar do assunto. Onde trancou? “Inovação” é, talvez, a palavra mais nobre e desgastada dos últimos tempos (como dizem nossos amigos do Crialab da PUCRS, é uma palavra que precisa ser “lavada”).
Abordar o assunto pelo lado teórico é o que já fazem com maestria estudiosos como Max Carlomagno, Luis Humberto Villwock e João Alziro da Jornada; escrever uma coluna sobre Inovação na Índia cobriria muito menos do que o que já está disponível na web – basta ir ao Google e digitar “Innovation at India” (o que, aliás recomendo fortemente para quem ainda acredita que a Índia é movida por castas que atrasam seu desenvolvimento – as gerações Y e Z da Índia não estão nem aí para castas e querem dominar o mundo como seus pares ocidentais!).
Eis que antes de ligar para o Maurício e dizer que o tema não era para mim, um colega me deu uma dica: que tal escrever sobre a vida real na busca por Inovação? Um reality show escrito (sem eliminações!) mostrando o o-a-o, as dificuldades, as vitórias, os aprendizados, os parceiros que ensinam e colaboram... Cool! Acho que isso funciona. Fone no ouvido, U2 no playlist e mãos à obra!
Um pouco de contexto: lidero na Hewlett Packard Enterprise (HPE) a área de Pesquisa e Desenvolvimento do Brasil, conhecida por R&D Center-Brazil.
A HPE é fruto da separação da HP em duas empresas, ocorrida em 1º de Novembro de 2015. A HP seguiu com impressoras e computação pessoal e HPE com infraestrutura (servidores, storage, networking, software) e a área de serviços conhecida por Enterprise Services (cujo merge com a CSC foi anunciado a alguns meses atrás)
Nota: em português HPE soa quase com um prolongamento fonético de HP, então, sim, por aqui vai ser sempre difícil diferenciar pelas siglas, eis porque falamos muitas vezes o nome completo Hewlett Packard Enterprise.
Liderar uma área de P&D é um enorme prazer. Não apenas porque não existe rotina no trabalho, mas principalmente porque nossos engenheiros (e aqui me refiro aos engenheiros do R&D Center-Brazil e de forma geral aos engenheiros de software brasileiros) estão entre os melhores do mundo.
Sim, por aqui dizemos que somos melhores do que muitos e tão bons como poucos! Excesso, arrogância? Não, fatos de quem tem interface com engenheiros do mundo inteiro e orgulho de sermos bons.
Nosso trabalho por um lado é semelhante ao da construção da estação espacial: diferentes geografias pelo mundo desenvolvem “partes” (que chamamos de componentes) de software, que depois são conectados para formarem um produto de ponta.
Nesse tocante vale um comentário: a tecnologia empregada nos produtos é tão intensa que por vezes é necessário uma equipe de 30 ou mais engenheiros para desenvolver, por exemplo, o software de um pequeno display conectado a um servidor.
A outra parte de nosso trabalho é participar das decisões de novos produtos ou da arquitetura dos mesmos. Isto significa debater com Fellows e DTs (o Olimpo dos tecnologistas), tendo a ousadia de argumentar, contra-argumentar e propor Inovação. Sim, ousadia nos define, afinal, como de praxe, o “não” já temos no início de qualquer reunião.
Olhando este quadro, a primeira impressão é que vivemos em um mundo de constante inovação e que basta conduzir o barco. Verdade. E mentira. Verdade porque o desenvolvimento de software é por natureza uma atividade de criação (desenvolvedores são artistas, como dizia um colega).
Mentira por uma série de motivos: no momento em que estamos nos aperfeiçoando em uma tecnologia, outra mais avançada já está sendo lançada; precisamos constantemente aumentar nosso grau de contribuição para sermos competitivos como geografia (o Brasil é uma geografia de alto custo, a Índia é uma geografia de baixo custo e os Estados Unidos, bem, são os Estados Unidos), e finalmente, os maiores talentos (felizmente) não am estar em um ambiente de estagnação inovativa.
Nossa realidade portanto, é a de um reinventar quase que diário, construindo novas versões de nossas características inovadoras. Cada versão pode demandar uma nova cultura (ou adaptações na existente), novas ferramentas, novos processos, novo modelo organizacional, novas conexões, novos parceiros, novos aprendizados, nova estratégia, novos, novos, novos e novos. A versão deste ano chama-se Morpheus e é sobre ela que vou escrever neste espaço.
O mais incrível é que, em geral, deixar qualquer um dos itens citados para trás, pode significar o fracasso do todo. Um dos principais exemplos: definir um novo objetivo estratégico de inovação e esquecer de avaliar se a cultura organizacional vai nos levar até lá. Nesse processo, caro leitor, é tudo ou nada!
Acho que tenho que encerrar por aqui (já devo ter ado do limite de palavras que recebi e que confesso não lembro mais qual era). Agora é acertar com o Maurício quando teremos novos capítulos. Obrigado pela leitura e até a próxima!
* Luís Fernando Saraiva é diretor do R&D Center-Brazil da HPE.