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Sede da Ceitec em Porto Alegre. Foto: divulgação/Ceitec.
O Ministério Público Federal (MPF) quer anular boa parte das contratações feitas pelo Ceitec através de um concurso público realizado em 2012.
Para o MPF, houve irregularidades na área do concurso para os cargos de especialistas em eletrônica avançada, responsáveis por 126 das 188 vagas abertas.
A principal irregularidade apontada pelo MPF é o direcionamento para que os funcionários temporários fossem aprovados. Cerca de 85% dos temporários teriam sido aprovados, informa a Zero Hora.
De acordo com o jornal, outro problema é que dois diretores e três gerentes também teriam concorrido no concurso e, ao mesmo tempo, integrado a banca julgadora.
Em nota, o presidente interino da Ceitec, Marcelo Lubaszewski, disse apenas que foi contratada regularmente uma empresa reconhecida para organizar o concurso e que os candidatos mais qualificados e preparados foram selecionados.
Não seria surpreendente que a direção do Ceitec tenha feito uma licitação que permitisse que funcionários com tempo de atuação na casa permanecessem na operação, uma decisão que faz bastante sentido do ponto de vista de negócios.
Por outro lado, parece difícil que cargos de especialistas em eletrônica avançada sejam usados para algum motivo escuso que justifique um concurso dirigido, com favorecimento político.
Os profissionais atuam em áreas estratégicas para a empresa como projetos dos chips, processo de fabricação, desenvolvimentos de produtos e TI.
A situação, no entanto, parece ser mais lenha para a fogueira dos que pensam que o Ceitec, empresa na qual o governo federal já colocou mais de R$ 670 milhões desde 2000, não tem futuro enquanto permanecer uma estatal.
No ano ado, o Ceitec faturou R$ 1,2 milhão, principalmente com chamado chip do boi, usado no rastreamento de gado. Outro cliente é a Casa da Moeda, que compra chips para os aportes. Boa parte da produção ainda é feita em empresas terceirizadas.
Lubaszewski, que foi pesquisador da UFRGS na área e está na Ceitec desde 2010, ocupa a presidência de maneira interina desde agosto do ano ado, depois do então presidente, Cylon Gonçalves da Silva.
Em agosto do ano ado, circulou a informação de que o Ceitec contrataria uma consultoria inglesa para traçar um plano comercial e tecnológico, definindo quais são os investimentos em atualização dos equipamentos necessários.
O trabalho deveria ser concluído até o final de 2013, momento no qual seria buscado um executivo para presidir a empresa. O custo foi estimado por fontes do mercado de eletrônica em US$ 1 milhão.
Não houve notícias sobre a contratação, os resultados e a busca do novo CEO.
Mesmo em fase pré-operacional, o Ceitec gasta bastante. Os investimentos em TI, acompanhados pelo Baguete, incluem dois sistemas de gestão, um da Totvs para a operação e outro da SAP para a fábrica, ainda em 2010.
Outro investimento foi um HP Pod, solução de data center in a box da multinacional, a um custo de R$ 5 milhões, em 2014
Em maio do ano ado, chegou a circular que o governo federal considerava a venda de parte de empresa, deixando o governo como sócio de uma PPP gerida pela iniciativa privada. A ideia teria a simpatia do então ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp.
O presidente do conselho de istração do Ceitec e secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, Virgílio Almeida, veio a público meses depois para negar a possibilidade de privatização.
Ainda em agosto de 2009, o antecessor de Silva no cargo, o alemão Eduard Weichselbaumer, um executivo de mercado trazido para liderar a estatal, disse com todas as letras que a empresa deveria abrir capital e ser privatizada em até três anos.
“Nossos custos istrativos são altos, na faixa dos 20%, quando uma empresa privada do ramo fica em 7%. Na diferença fica a margem de lucro”, resumiu na época o alemão, que tem 30 anos de experiência no ramo de microeletrônica, 10 deles no Vale do Silício.
Weichselbaumer assumiu a empresa em março de 2007. Em julho de 2010, foi a uma feira de tecnologia em San José e não retornou mais ao Brasil. Hoje, atua no Atacama Ventures, um fundo de investimentos em tecnologia focado no Brasil.
Em uma carta entregue ao ministro de Ciência e Tecnologia que foi divulgada pela imprensa na época, o ex-presidente critica a burocracia do governo e as dificuldades de implementar modificações, uma lista a qual se soma agora a dificuldade de contratar profissionais.
“Durante os últimos 18 meses eu tenho apresentado o que é necessário para completar a fábrica - e que na minha opinião, poderia ter sido concluído há 12 meses atrás caso a istração do MCT tivesse sido eficiente”, criticou o alemão na carta.
Weichselbaumer disse ainda que “nestas condições não vejo a empresa como tendo condições de atingir os objetivos necessários de forma a ter sucesso”.
O processo movido pelo MPF pode ser a situação que faltava.