
"Você só fala de software na nuvem, estou cansada". Foto: Depositphotos.
A DSAG, o poderoso grupo de usuários da SAP na Alemanha, Suíça e Áustria, deu um calor na multinacional alemã, divulgando uma nota na qual demanda que a versão on premise S/4 receba todas as novas funcionalidades do que as disponíveis para o ERP operando na nuvem.
O motivo da pressão é uma nova versão do S/4, prevista para chegar em outubro, na qual a SAP poderia optar por colocar mais funcionalidades na nuvem.
Vale lembrar que migrar os clientes para o S/4 rodando na nuvem é uma prioridade estratégica da SAP, que lançou inclusive um grande programa nesse sentido em 2021, batizado de Rise with SAP.
A DSAG pediu um “compromisso vinculante”, de que a nova versão não signifique que “inovações e melhorias vão acontecer apenas na nuvem pública”.
O motivo é o investimento feito pelos associados em migrações para o S/4 rodando on premisses desde o lançamento da nova versão do ERP, em 2015, que de acordo com a DSAG, ficaram na casa dos “milhões, dezenas de milhões ou até centenas de milhões”.
Uma pesquisa da DSAG no ano ado apontou que só 2% dos seus associados estavam rodando o S/4 em nuvens públicas, e outros 6% em nuvens privadas. Um grupo significativo de 32% roda o S/4 on premise.
A grande maioria, 75%, ainda está em versões anteriores ao S/4, o que mostra o tamanho do problema que a SAP tem nas mãos (a conta dá mais de 100% porque mais de uma resposta era possível).
O site inglês The procurou a SAP para ver o que ela tinha a dizer sobre tudo isso. Um porta-voz da empresa exaltou o trabalho em conjunto com a DSAG, mas não chegou a prometer o que a associação quer.
“Queremos ser um parceiro transparente e de confiança para os nossos clientes, tanto em termos da nossa estratégia, roteiros de produtos, como em termos de compromissos de manutenção”, disse o porta-voz.
A SAP destacou ainda que a versão on premise do S/4 tem uma garantia de e até 2040, o que é “único na indústria de TI em termos de segurança para os investimentos já feitos”.
Para entender o debate entre a DSAG e a SAP, é preciso entender as diferenças da associação alemã com o seu equivalente brasileiro, a ASUG.
Ambas entidades têm um trabalho similar da porta para dentro, no que tange a troca de conhecimento entre os participantes, eventos e publicações, por exemplo.
A diferença é o peso específico e o contexto cultural. A DSAG reúne 3,7 mil empresas usuárias de SAP na Alemanha, Áustria e Suíça, países no qual a multinacional alemã domina o mercado, com clientes usando as soluções da empresa há décadas.
Por outro lado, as grandes empresas na Alemanha estão acostumadas com um processo decisório orientado a formar consensos, com o poder dividido entre diferentes stakeholders.
Em grandes empresas, inclusive sindicatos estão representados em conselhos internos.
Assim, é difícil para a SAP promover mudanças muito radicais de rumo, ainda mais frente a esse grupo de clientes chave nos países de língua alemã na Europa.