
Virgílio Almeida, professor da UFMG. Foto: Lucas Braga/UFMG
Um relatório escrito por 16 cientistas recrutados pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi publicado com recomendações para a área da inteligência artificial no Brasil. Entre elas, um orçamento de R$ 1 bilhão por ano pelos próximos cinco anos.
Batizado de "Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil", o estudo é liderado por Virgílio Almeida, professor da UFMG, e foi lançado na última quinta-feira, 9, na sede da ABC no Rio de Janeiro.
Segundo O Globo, o relatório reconhece que o país está atrasado na área, com uma grande fuga de cérebros no setor. Para os cientistas, caso uma política de estado não seja estabelecida, o país ficará cada vez mais atrasado na desigualdade tecnológica global.
"Embora o Brasil tenha cientistas mundialmente renomados em diversas áreas — inclusive em IA —, falta a massa crítica necessária para impulsionar avanços tecnológicos significativos", afirmam os pesquisadores.
No Brasil, a concentração de esforços para a área está em São Paulo e ainda não há propostas de política nacional para a inteligência artificial.
Para os cientistas, uma possibilidade de mudança seria "explorar a criação de programas ou de uma agência nos moldes da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), focada no desenvolvimento e adoção de IA".
"O orçamento dessa agência deve ser compatível com os investimentos de outros países com protagonismo tecnológico — algo em torno de R$ 1 bilhão por ano pelos próximos cinco anos", estimam.
Além do investimento, a recomendação é que a medida venha acompanhada de programas de estímulo à formação de mão de obra em ciência da computação com pós-graduação em IA e da introdução da IA de pesquisa em outras áreas.
Nas 24 páginas do relatório, os cientistas avaliam que o Brasil possui condições de participar de um grupo de 15 países que impulsionam a IA no mundo, mas isso não irá acontecer sem vontade política.
"O Brasil não pode correr o risco de ser apenas um usuário de soluções IA concebidas no exterior. A dependência de outros países e de grandes empresas nesta área pode prejudicar a segurança e a soberania nacional, além da competitividade das empresas nacionais no país e no exterior", alertaram.
Outro ponto levantado pelos autores é o atraso na área de inovação em relação ao de IA de pesquisa pura — algo que pode comprometer a competitividade da economia do país.
A demora pela regulamentação para o setor também foi expressada no documento.
"Apesar de potenciais benefícios e oportunidades, há evidências concretas de que as tecnologias de IA podem trazer danos para indivíduos, grupos, sociedades e para o planeta. Entre as preocupações, estão violações de privacidade, criação de ambientes anticompetitivos, manipulação de comportamentos e ocorrência de desastres ambientais", pontuam.
Almeida declara que o tema deve ser encarado com urgência.
"O Brasil, por seu tamanho e importância, não pode ficar atrás. Do contrário, aumentará a distância entre o desenvolvimento econômico aqui e o do mundo desenvolvido", afirma o cientista.