
AWS, agora nas telas da Band e Globoplay.
A Amazon Web Services acaba de estrear uma campanha publicitária na televisão aberta do Brasil, com um comercial focado no trabalho da gigante de nuvem na F1.
O que poderia parecer um fato trivial para outra empresa é inédito para a AWS, que nunca fez uma campanha publicitária em televisão aberta nem no Brasil nem em nenhum outro lugar do mundo.
O filme será veiculado até o final da temporada da F1 na TV Bandeirantes, canal oficial da competição no país, e no Globoplay, e vai ao ar durante os treinos, qualificatórias, na corrida ao vivo e nos destaques de notícias esportivas.
A AWS já é patrocinadora da F1 desde 2018. Tecnologias da empresa ajudam a analisar um grande volume de dados oriundos de 300 sensores dos carros. As informações são lançadas durante as transmissões ao vivo.
Em nota divulgada para a imprensa, a AWS entra em detalhes sobre o seu trabalho com a F1, uma competição muito prestigiada por grandes players de tecnologia (e, no caso do Brasil, um bom tema no ano em que se lembra dos 30 anos da morte de Ayrton Senna).
Aí vai o anúncio, para quem quiser ver (a AWS pode fazer o PIX depois para o Baguete pela publicidade):
A empresa, no entanto, não fala uma linha sobre a grande pergunta que fica: porque a AWS resolveu gastar dinheiro com publicidade em TV aberta no Brasil bem agora?
Este repórter, para variar, tem uma teoria: a AWS está no meio de uma campanha de relações públicas. visando solidificar uma imagem positiva no Brasil.
De uns tempos para cá, a empresa tem sido mais aberta sobre seus investimentos no país.
Em agosto do ano ado, a AWS abriu pela primeira vez o valor dos seus investimentos no Brasil: foram mais de US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 19,2 bilhões) desde a chegada da companhia ao país, em 2011.
Mais recentemente, a empresa também anunciou que investirá R$ 15 milhões no Brasil nos próximos dois anos através da Escola da Nuvem, uma organização não governamental que prepara estudantes para carreiras em cloud e os conecta com potenciais empregadores.
E o que mudou no meio tempo nas condições gerais do mercado, que explique a necessidade de uma ação desse tipo? No mercado privado, onde a AWS é líder de mercado, nada.
Mas no setor público... Desde a transição para o novo governo de Lula (PT), figuras importantes da nova istração já vinham dando pistas que queriam reverter a política de compras públicas em relação à computação em nuvem.
Desde o governo Michel Temer (PMDB), Brasília vinha apoiando compras milionárias de nuvem, por meio de grandes licitações coletivas coordenadas pelo Ministério do Planejamento, e, depois, da Economia. A AWS esteve sempre entre as grandes vencedoras.
O Serpro, a maior estatal de tecnologia do país, vinha fechando acordos em série com players de cloud para se tornar uma intermediária da venda desse tipo de serviços. O primeiro deles, ainda em 2020, foi com o Serpro.
Agora, o vento parece ter mudado completamente. Em abril, o mesmo Serpro lançou a “Nuvem de Governo”, uma solução hospedada no seu data center, que, de acordo com a estatal, transforma o Brasil “na única nação com nuvem 100% soberana no hemisfério Sul”.
O leitor pode opor que comerciais na Band sobre F1 não são a maneira mais efetiva de influenciar a política de tecnologia em Brasília, e ele estará parcialmente certo. O caso é que uma estratégia de comunicação tem sempre diferentes aspectos.
Um exemplo que esse repórter nunca esquece foi dado pela gigante chinesa Huawei, que entre 2020 e 2021 viveu uma época algo turbulenta no Brasil.
Partes barulhentas do então governo Bolsonaro (PL) estavam demandando que o Brasil atendesse a demanda dos Estados Unidos e banisse a Huawei da infraestrutura do 5G no país.
A Huawei então surgiu em fevereiro de 2021 com uma campanha publicitária (a sua primeira no país) estrelada pela cantora Ivete Sangalo para ser a estrela da primeira campanha publicitária no Brasil.
Meses antes, sem fazer o mesmo alarde, a gigante chinesa tinha contratado o ex-presidente Temer para preparar um parecer jurídico contra o seu banimento do 5G.
No final das contas, o Brasil permitiu a entrada da Huawei no 5G.