
Dois tucanos não se bicam. Foto: flickr.com/photos/dusantos_bh
O aplicativo de celular para a votação das prévias para definir a candidatura à presidência do PSDB não funcionou e a eleição no partido está paralisada no momento, em meio a muita confusão.
“O processo de votação em aplicativo encontra-se pausado em razão de questões de infraestrutura técnica, que não comportou a demanda dos votantes das prévias”, diz nota do PSDB.
Estima-se que menos de 10% dos quase 45 mil votantes conseguiram votar no domingo, 22, quando deveria acontecer o primeiro turno da primária.
A falha no aplicativo, criado pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por R$ 1,3 milhão, se tornou parte da disputa.
O governador de São Paulo, João Doria, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, divulgaram uma nota com críticas ao app.
“Foi alertado durante todo o processo sobre a fragilidade do aplicativo e os problemas de instabilidade e insegurança que o modelo proposto poderia trazer para as primárias”, afirma a nota dos dois candidatos.
Doria e Virgílio incluíram uma indireta (bom, nada indireta) entre colchetes, ao informar que a Faurgs seria “sediada em Pelotas”.
Como se sabe, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e principal adversário de Doria na disputa, começou a carreira como prefeito de Pelotas.
Leite rebateu a insinuação, afirmando a jornalistas que a informação sobre a sede da Faurgs era “mais uma mentira da campanha adversária”. A entidade é sediada em Porto Alegre.
Como a votação vai continuar ainda não está claro. Doria e Virgílio querem que a votação seja retomada no próximo domingo, 28, quando seria realizado o segundo turno.
Já Leite propõe a ampliação da votação por app por mais 48h, sempre que seja “garantida a capacidade técnica para votação de todos os cadastrados”.
A votação pelo app é mais importante para Doria do que para Leite. São Paulo representa 62% dos cadastrados para votar e o grupo de filiados sem mandato é o seu principal trunfo no pleito.
Leite, por outro lado, tem mais apoio entre os eleitores com mandato, deputados e senadores, cujo voto pesa mais na primária. Além disso, eles votaram presencialmente, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. A votação presencial não teve problemas.
Quando o app vai estar em condições é ainda outra questão em aberto na prévia.
De acordo com o diretório paulista, o app chegou a ficar 4h fora do ar durante a manhã.
Desde o início da votação, nesta manhã, tucanos de todo o país relataram dificuldade para ar a ferramenta via reconhecimento facial e registrar seus votos.
Em nota, a Faurgs afirma que está "investigando" as causas do problema, mas já afirma de antemão que os problemas "não tem qualquer relação", com a compra de licenças para ar o reconhecimento facial dos filiados.
Segundo a fundação, a prova disso seria que o processo de cadastramento dos eleitores foi feito com reconhecimento facial.
A Faurgs é conhecida no setor de tecnologia do Rio Grande do Sul pela sua atuação como fornecedora de desenvolvimento de software do banco estadual Banrisul ao longo dos últimos 20 anos.
Em uma ocasião, por coincidência também durante uma istração tucana, a fundação se viu envolvida numa polêmica quando o vice-governador, Paulo Feijó, fez denúncias sobre irregularidades envolvendo contratos de TI do banco estatal gaúcho com a Faurgs.
A consequência foi a suspensão de contratos e a de um termo de ajuste de conduta por parte do Banrisul com o Ministério Público.
O PSDB de maneira geral parece gostar de fundações ligadas a universidades públicas.
O app foi desenvolvido pela Faurgs, mas a Fusp (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo) foi contratada, junto com Kryptus e Bidweb, para monitorar o aplicativo na eleição.
Ao longo do processo, a Kryptus e a Fusp levantaram uma série de fragilidades no aplicativo. O partido informou que elas teriam sido resolvidas.
Olhando por outro lado, as falhas no aplicativo de votação parecem ser um caso de adaptação ao modelo de gestão interna do PSDB, no qual prévias marcadas pelo caos tem um papel especial.
A prévia de ontem não foi exceção. O longo período de espera no domingo acabou sendo marcado por episódios de brigas entre correligionários, em uma delas, dois homens por pouco não se agrediram fisicamente.
A tensão ficou ainda mais elevada durante o voto da deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC), que declara voto em Leite, mas está de saída do PSDB. Ela se autodeclara bolsonarista.
* Alterado no dia 26.11, nos parágrafos referentes à relação da Faurgs com o Banrisul.