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Movimentação em Brasília. Foto: Depositphotos.
Analistas de TI no governo federal podem logo começar a carreira com salários base de R$ 16 mil, podendo chegar a R$ 25 mil, segundo critérios de desempenho.
O valor é muito acima dos vencimentos básicos oferecidos hoje, que ficam entre R$ 2,2 mil a R$ 4,6 mil, com o valor final podendo chegar a R$ 9 mil.
Parece bom? Pois ainda em 2023 deve acontecer um concurso público para 205 vagas, com nomeações previstas para o ano de 2024.
Pelo menos, é o que garante a Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação (Anati), que está se mexendo para que o aumento e o concurso aconteçam.
Em termos de fatos concretos, ainda falta bastante coisa.
Segundo uma nota divulgada no site da entidade, a promessa do concurso é da própria ministra da Gestão, Esther Dweck, que esteve participando de um evento da Anati na semana ada.
Já o novo plano de carreira está numa fase ainda mais inicial do debate.
Nesta quarta-feira, 26, representantes da Anati estiveram reunidos com o secretário de Governo Digital, Rogério Mascarenhas, para debater o plano de carreira da categoria.
Na sua nota, a Anati fala que foram "traçados alguns cenários", e que a proposta que a entidade entende que "vai prosperar" prevê o tal salário inicial de R$ 16,3 mil, podendo chegar até a R$ 25 mil com pagamentos adicionais.
Ele seria o degrau inicial de uma carreira com 13 níveis, no lugar dos 20 atuais, no qual um servidor no topo ganharia R$ 28 mil mensais, um pouco mais do que o dobro dos R$ 13 mil de hoje.
“O governo está trabalhando na reestruturação do cargo de analista de TI e criando uma remuneração justa e compatível com a gestão de TI e com o próprio mercado”, disse ao site Convergência Digital o diretor presidente da Anati, Thiago Aquino Lima.
Segundo a Anati, existem hoje 430 analistas de TI atuando em 250 órgãos diferentes em Brasília, e o cargo teria um turnover de 50%, o que seria a “maior taxa de evasão” do executivo federal, com funcionários abandonando postos concursados por vagas na iniciativa privada com salários melhores, ou possibilidade de carreira internacional.
No último concurso, realizado em 2015, foram oferecidas 300 vagas, das quais só 190 foram ocupadas. Para a Anati, prova da falta da atratividade dos salários oferecidos.
“Essa proposta resolve a retenção da força de trabalho. E quando fizer concurso, vamos atrair os melhores especialistas de TI. A gente precisa fazer diferente. E o governo sinaliza que vê a importância em valorizar e reter esse profissional, porque essa carreira é responsável por gerenciar R$ 8 bilhões em contratos por ano”, aponta Lima.
A pergunta que fica é o quão realistas são os planos divulgados pela Anati.
A Convergência Digital procurou o Ministério da Gestão, que desconversou por meio de uma nota, na qual diz que “está analisando todas as demandas por concurso público”, visando “recuperar a capacidade de atuação do governo para a execução de políticas públicas”.
Se algo acontecer, vai sair no Diário Oficial, aponta o ministério, que realmente deu uma resposta padrão com comprometimento zero com o que a Anati está falando, o que era de esperar, por outro lado.
E quem é a Anati? Segundo o seu site, a entidade foi fundada em 2010. A atuação até agora vinha sendo discreta. Pelo perfil da diretoria, a Anati tem entre suas fileiras servidores públicos relativamente recente (quatro dos cinco diretores têm menos de 10 anos de Brasília).
Thiago Aquino, o presidente, tem um perfil bastante típico, tendo entrado na carreira pública em 2016, ao começar como chefe de infraestrutura no Ministério da Justiça, ando em 2022 para o Ministério do Trabalho.
Que Brasília tem um problema na área de TI, parece claro. O ano de 2022 deve ter sido o pior da história no governo federal, quando o assunto é ataques hacker, panes em grandes serviços, vazamentos massivos de dados e outras catástrofes.
Por outro lado, as notícias de grandes demissões em empresas de tecnologia aram a se acumular em 2023, o que é uma situação nova na área de tecnologia no Brasil e certamente deve aumentar a atratividade de uma posição segura no funcionalismo.
No final das contas, além da discussão sobre a estrutura ideal da área de TI do governo e como ela pode se refletir num plano de carreira, é preciso ver a realidade dura do princípio do “quem não chora não mama”.
Aí o decisivo é o grau de influência política que a Anati possa ter. Categorias de nicho podem ser muito eficazes em impor suas pautas e obter grandes salários.
Talvez o exemplo mais representativo disso a nível federal sejam os auditores fiscais da Receita Federal. A diferença é que eles atuam numa estrutura sindical e vira e mexe estão organizando alguma greve, durante as quais o governo não arrecada.