
Fonte do Anjo Caído no parque Bom Retiro, em Madri. Foto: Wikimedia Commons.
O investimento anjo levou um tombo no Brasil em 2020, com uma queda de 20% para R$ 856 milhões no total.
A informação é da associação Anjos do Brasil, que visa fomentar esse tipo de investimento feito por pessoas físicas em empresas de tecnologia em estágio inicial.
A queda é chamativa, porque no mesmo período, o volume de investimento total nas startups brasileiras bateu um recorde histórico, subindo para US$ 3,5 bilhões, 17% mais do que 2019, de acordo com um levantamento da Distrito.
O motivo da discrepância são as dinâmicas diferentes de atuação entre fundos de investimento, muitos deles de fora do país, e os 6.956 investidores anjo atuantes no Brasil pelas contas da Anjos do Brasil (queda de 15% frente a 2019).
“Os fundos captam recursos previamente para depois investirem. Assim, independente da pandemia, eles precisam alocar o capital. Já o investimento anjo é feito com recursos próprios de acordo com a disponibilidade do investidor e a pandemia teve impacto para muitos dos negócios dos investidores”, resume Cassio Spina, presidente e fundador da Anjos do Brasil.
Spina ressalta que essa dinâmica é especialmente forte no caso dos chamados investidores ivos, que são procurados por empreendedores e investem oportunisticamente, ao contrário de grupos organizados de investidores anjos, que têm estruturas para buscar ativamente investimentos.
A análise segmentada da Anjos do Brasil entre esses perfis de investidores revela que os investidores proativos apresentaram crescimento no volume de investimento aplicado.
Por outro lado, os investidores ivos tiveram uma “grande redução”, que não foi compensada no resultado final.
O problema é que o recorde de investimentos dos fundos não compensa a queda do capital anjo, porque os dois miram em empresas diferentes. O investimento anjo, como o nome denota, pode muitas vezes ser um “salvador” de uma startup em estágio inicial, o primeiro dinheiro em uma operação depois que os fundadores esgotaram o seu capital.
Assim, sem o capital anjo, muitas startups podem morrer no berço, não chegando a se desenvolverem a ponto de serem atrativas para um aporte maior de um fundo.
“Apesar da perspectiva de recuperação para 2021, infelizmente o volume é insuficiente para apoiar o aumento de startups que estão surgindo. O investimento em startups precisa de estímulo e apoio para crescer e atingir todo seu potencial”, aponta Spina.
Fazendo uma comparação com o volume de investimento anjo americano, a Anjos do Brasil estima que o volume total no Brasil poderia ser de R$ 12 bilhões ao ano.
Para isso acontecer, a entidade defende alterações no marco tributário, recompensando o risco de investir numa startup em fase nascente mais atraente por uma redução dos impostos em um eventual retorno.
“Para que o Brasil atinja todo seu potencial é necessário a criação de políticas públicas de fomento ao investimento em startups com ocorre nos países com ecossistemas mais dinâmicos”, agrega Spina.