
Jorge Carneiro comprou a empresa que ele já comandava.
A Sage vendeu seus negócios no Brasil para o presidente da empresa no país, Jorge Carneiro, por um valor de £ 1 milhão pagos à vista, e outros £ 9 milhões em um prazo e condições não reveladas.
A venda foi comunicada pela Sage em uma nota para investidores em nível mundial e corroborada por meio de uma nota enviada ao Baguete pela operação brasileira.
Jorge Carneiro é presidente da Sage Brasil desde 2014 e um executivo com 20 anos de Sage, tendo sido antes CEO da Sage em Portugal entre 1999 e 2014.
“Agora, teremos mais independência e, consequentemente, velocidade para conduzir o negócio focando nas necessidades das empresas brasileiras. Acredito muito na empresa, no nosso time, nos brasileiros e no potencial do país”, afirma Carneiro.
De acordo com a nota para investidores, negócio vendido teve receitas de £ 53 milhões no ano fiscal encerrado em setembro de 2019, uma queda pequena frente aos £ 54 milhões do ano anterior.
No mesmo período, a empresa também reverteu um prejuízo de £ 7 milhões, para um lucro operacional de £ 2 milhões.
A operação brasileira foi colocada à venda em novembro de 2019, como parte de estratégia de focar nos produtos globais e em algumas regiões específicas, entre as quais não estava no Brasil.
O negócio deve estar fechado definitivamente em 60 dias.
“Muito em breve teremos importantes novidades, focadas no mercado brasileiro. Estamos empenhados em levar os nossos clientes para a economia digital de forma tranquila e ponderada. Estamos começando uma nova história, que trará com certeza muitas oportunidades para todo o nosso ecossistema”, finaliza Carneiro.
A imensa maioria da base de clientes da Sage no Brasil é oriunda de três compras feitas no país: Folhamatic, EBS e Cenize, donas de três softwares de gestão focados em escritórios de contabilidade.
Eles são os produtos não globais que a Sage queria vender e acabou vendendo, por uma fração do preço pago originalmente.
A maior das compras foi da Folhamatic, pela qual a empresa pagou R$ 398 milhões por 75% de participação em 2012.
Os outros 25% restantes foram pagos em 2015, em um negócio que não teve o valor divulgado. Se o preço foi proporcional, ficaria em mais R$ 132 milhões.
Apesar da Sage não ter feito muito estardalhaço sobre o assunto no momento, foi o segundo maior negócio do mercado de ERP brasileiro, só atrás da compra da Datasul pela Totvs, em 2008, uma operação de R$ 700 milhões.
Depois, a Sage gastou algo próximo a R$ 50 milhões para adquirir as paranaenses Empresa Brasileira de Sistemas (EBS), sediada em Curitiba, e Cenize Informática, de São José dos Pinhais.
O plano da Sage parecia ser usar os sistemas de gestão para escritórios de contabilidade, como uma porta de entrada em empresas pequenas atendidas por esses contadores, o que é uma abordagem comum.
O produto próprio que a Sage queria emplacar por aqui mesmo era o X3, seu ERP na nuvem para pequenas e médias empresas, lançado em 2015.
A Sage queria brigar com softwares da Totvs e do Business One, produto para pequenas e médias da SAP, concorrentes na fatia mais fragmentada do mercado de ERPs no Brasil.
Não deu certo, segundo avaliaram analistas de mercado ouvidos pelo site britânico The .
"O mercado de ERP no Brasil é dominado pela Totvs. Para ser franco, a Sage não tinha nenhuma chance com uma colagem de pacotes focados em contabilidade", resumiu um deles.
A base de clientes Folhamatic, EBS e Cenize ficou na mão da nova empresa controlada por Carneiro.
Questionada sobre o assunto pelo Baguete, a Sage do Brasil disse apenas que a Sage global seguiria trabalhando diretamente o produto X3, "em conjunto com Carneiro".
Apesar de nunca ter decolado para valer no Brasil, o X3 tem uma rede de parceiros locais e ou por algumas movimentações importantes nos últimos tempos.
Em outubro do ano ado, a Xplor, companhia portuguesa que é uma das maiores parceiras da Sage, criou uma t venture com a brasileira Grupo TechTrends para vender no Brasil o X3.
Com a união, nasceu a Xplor Latin America, cujo objetivo é tornar-se a maior implementadora no país do X3 até o final de 2020.
A dúvida que fica é se a nova empresa comandada por Carneiro vai ser um players a mais no mercado X3, ou se terá algum status especial, atuando como um distribuidor para os parceiros já existentes.