
Ovelha não é para mato. Foto: Pixabay.
O Banco Neon e a Neon Pagamentos são duas pessoas jurídicas diferentes, de tal forma que os problemas de uma não influenciam necessariamente na operação da outra.
É o posicionamento que a Neon Pagamentos tem defendido desde a sexta-feira, 04, sendo rapidamente endossado pela Associação Brasileira de Fintechs e entusiastas do mercado fintech em geral.
A posição é verdadeira em um sentido literal (existem dois CNPJs diferentes, cada um responsável por parte da operação), o que tem encorajado alguns a tratar como fake news, distorção da realidade e perseguição ao empreendedor comentários e cobertura mais crítica da crise no Neon.
Mas se é verdade que existem duas empresas, também é verdade que tal informação e o posicionamento consequente só surgiram como uma resposta de ocasião à crise gerada pela intervenção do Banco Central no Banco Neon (o ex-Pottencial, como todos aram a lembrar).
(Assim que o posicionamento veio a público, não pude deixar de lembrar da clássica anedota na qual um cirurgião sai da sala de operações e diz a uma família ansiosa: “A operação foi um sucesso, mas o paciente morreu”).
Se a intervenção do BC não tivesse acontecido, Banco Neon e Neon Pagamentos seguiriam sendo tratados como uma empresa só, porque isso era o mais conveniente para todos os envolvidos.
Uma empresa só era algo mais útil para fazer avançar a proposição que o Neon é (era?) um competidor para os bancos estabelecidos, tal como interessava à empresa (ou às duas delas, se vocês quiserem) e a todos aqueles que estão investidos no sucesso do mercado fintech brasileiro (estimativas falam de R$ 1 bilhão já colocado em iniciativas do gênero).
A tese das duas empresas tem suas implicações negativas, que me parecem estarem ando despercebidas para os seus próprios proponentes.
O que o público ficou sabendo nesses últimos dias é que uma parte da operação da Neon não sabia o que a outra estava fazendo. Pedro Conrade, CEO da Neon Pagamentos, foi bem claro nesse sentido.
Agora, o que cabe aos observadores analisar é se a Neon Pagamentos não sabia porque achava que não precisava saber, porque preferiu não saber ou porque pensava que sabia uma coisa, quando a verdade era outra.
Nenhuma dessas proposições é especialmente interessante para a Neon, ou tranquilizante para seus investidores ou para o mercado de fintechs em geral, onde nada impede que esse de situações esteja se repetindo de maneira endêmica.
O segmento financeiro é altamente regulado e comandado por players antigos, com conhecimento do mercado e grande capacidade de investimento. Com as revelações causadas pela intervenção do BC e pela subsequente reação da Neon, fica claro que as fintechs ainda podem ter muito que aprender.
Um observador mais crítico pode até lembrar de um velho ditado gaúcho sobre estar intrinsecamente despreparado para enfrentar situações difíceis e complexas: “Ovelha não é para mato”.