
Luciano Hang soltou o verbo contra o eSocial.
Luciano Hang, dono da Havan e bolsonarista militante, pediu o fim do E-Social, projeto da receita de envio eletrônico de informações trabalhistas, durante reunião com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), e com a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL).
Dentro das práticas retóricas em alta no Brasil, Hang foi enfático, ainda que não exatamente bem educado:
“Eu entreguei lá, para o secretário, uma pauta para desburocratizar a nossa vida. E a primeira delas é acabar com o E-Social. E-Social é uma putaria do cacete. E isso está ligado com a Receita Federal”, disse Hang, muito aplaudido pelos presentes.
De maneira algo mais ponderada, Hang agregou: “Nós somos contribuintes e o governo que acreditar na gente. E no Brasil é o contrário. Você é culpado até que prove que é inocente”.
A fala, divulgada no Twitter de Hang, aconteceu durante um encontro de empresários para demonstrar apoio à proposta de reforma da Previdência, incluindo também Flávio Rocha, da Riachuelo, que chegou a tentar uma candidatura à presidência nas últimas eleições.
O secretário a quem Hang se refere é Salim Mattar, fundador da Localiza, o secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, ao qual também está subordinado a Receita Federal.
O Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obrigações Fiscais Previdenciárias e Trabalhistas, conhecido pela sigla eSocial, deu os primeiros os em 2013 e é parte de um esforço em custo em Brasília desde o começo nos anos 2000 no sentido de digitalizar as relações entre empresas e governo.
Ele é uma espécie de nota fiscal eletrônica para fiscalização das obrigações trabalhistas, um mar de 15 siglas: GFIP, CAGED, RAIS, LRE, CAT, CD, CTPS, PPP, DIRF, DCTF, QHT, MANAD, GRF e GPS.
Elas incluem o recolhimento de FGTS, comunicações de acidente de trabalho, comunicações de dispensa, imposto de renda retido na fonte e outras informações mais etéreas como o perfil profissiográfico previdenciário.
A partir de janeiro de 2018 a medida se tornou obrigatória para grandes empresas com faturamento superior a R$ 78 milhões por ano.
Os críticos do eSocial e outros movimentos semelhantes do governo apontam que os novos sistemas simplesmente informatizaram a burocracia, sem alterações estruturais para facilitar a vida das empresas.
No caso do eSocial, foram criados inclusive custos adicionais para pequenas empresas, uma vez que o envio de dados exige certificados digitais e a aquisição de sistemas informatizados que façam a conexão com o governo (um bom negócio para empresas de TI, diga-se de agem). Exigências como exames por médicos do trabalho, hoje dribladas por muitas pequenas empresas, se tornarão mais fáceis de fiscalizar - e de multar.
Hang provavelmente está dizendo o que muitos empresários pensam, mas preferem não dizer em público.
O empresário catarinense pegou um gosto por polêmicas e defende uma participação ativa do empresariado nos rumos do país.
Durante a campanha eleitoral, Hang mobilizou inclusive os funcionários da sua empresa na campanha de Bolsonaro, o que rendeu uma multa de que pode chegar a R$ 100 milhões do Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT-SC).
Hang já disse que a falta de presença do empresariado na vida política do país no ado é o "que levou o país à situação atual".
"Acho que a falta de entrosamento político da classe empresarial levou o país à situação em que nos encontramos hoje. Houve uma terceirização da política a pessoas de mau caráter, corruptas, comunistas, socialistas e vigaristas", lamenta.
Parece improvável que o novo governo Bolsonaro decida desmontar uma estrutura como o eSocial, um projeto de longo prazo que certamente tem muitos apoiadores na máquina do governo. Ele pode, no entanto, ampliar prazos, excluir segmentos ou reduzir obrigações.