
Amazon está desligando infra da Oracle pouco a pouco. Foto: https://www.flickr.com/photos/esdigitstock
A operação de consumidor final da Amazon, que engloba o serviço de Amazon Prime, a assistente pessoal Alexa e o leitor de e-books Kindle, trocou todos os seus bancos de dados Oracle pelos serviços da Amazon Web Services.
Ao todo, a migração somou 75 petabytes de dados, armazenados em 7,5 mil bancos de dados Oracle, informa empresa em um post.
De acordo com a Amazon, a migração foi feita com pouco ou nenhum downtime e resultou numa redução de custos da ordem de 60%, com uma redução do tempo de latência de 40%.
“Ao longo dos anos, notamos que estávamos gastando tempo demais gerenciando e escalando milhares de bancos de dados Oracle legados”, resume o evangelista chefe da AWS, Jeff Barr.
A movimentação no lado consumer na Amazon não é isolada.
A Amazon Fulfilment, o braço da Amazon que faz a logística de entrega de produtos de fornecedores terceiros, desligou o último banco de dados Oracle em abril, com direito a uma festinha com vídeo transmitido no Twitter.
No ano ado, o chefão da AWS, a companhia de cloud da Amazon, disse que a Amazon Retail, que vende os produtos dos estoques da própria Amazon, já tinha desligado o último data warehouse da Oracle.
Sabe-se lá quantos diferentes braços a Amazon tem, mas o fato é o plano, vazado pela imprensa, é zerar o uso de banco de dados e tecnologia da Oracle até o final de 2020.
Na época a Oracle contra atacou dizendo que a Amazon tinha feito uma compra de US$ 60 milhões ainda no ano anterior.
As migrações de bancos de dados da Amazon são parte de um briga muito maior entre as duas empresas que já dura anos, indo desde piadinhas em keynotes até uma briga judicial por um contrato de US$ 10 bilhões com o Pentágono que nos últimos tempos chegou até a mesa do presidente Donald Trump.
Mais recentemente, ficou provado que a Oracle estava financiando campanhas na mídia contra a Amazon, por meio de um movimento de fachada.
A Amazon provavelmente usava bancos de dados Oracle desde muito antes da AWS se tornar a potência que é hoje.
O fato de que a companhia seguia usando Oracle era usado sempre que possível pelo fundador da Oracle, Larry Ellison, como a prova de que a AWS não era um player sério no corporativo.
Elisson, aliás, gosta de dizer a mesma coisa de outros concorrentes como Salesforce e SAP.
Com a SalesForce e a SAP a Oracle compete em aplicações empresariais em mais ou menos pé de igualdade, mas a AWS é um competidor muito mais recente que assumiu a liderança na nuvem pública pelo que muitos analistas avaliam ser uma dormida no ponto da Oracle.
Além da competição na nuvem, a AWS lançou em 2014 o banco de dados relacional Aurora, que já emplacou clientes como Expedia, GE e Verizon.
Em novembro do ano ado, o Andy Jassy, CEO da AWS, resolveu provocar o chairman da Oracle, Larry Ellison, durante o keynote de abertura da conferência mundial da AWS.
Jassy mostrou um gráfico de pizza com as participações de mercado de diferentes players no mercado de nuvem. Elisson aparece olhando para a participação da Oracle, que está na categoria “outros”.
De acordo com os dados citados por Jassy, que batem com a média das pesquisas, a AWS tem 51,8% do mercado de nuvem pública, seguida de longe por Microsoft com 13.3%, Alibaba com 4.6% e Google com 3.3%.
“Os bancos de dados da velha guarda como Oracle e SQL são caros e não servem aos consumidores. As pessoas estão de saco cheio deles e agora tem uma escolha”, disparou Jassy.
A provocação de que os clientes não aguentam mais o banco de dados da Oracle também tem algo de substância.
Uma pesquisa recente da JP Morgan com 154 CIOs mostrou que só 2% apontaram a Oracle como seu principal vendedor de nuvem, 27% disseram Microsoft e 12% a Amazon Web Services.
A nota do JP para os seus clientes, divulgada em parte pela CNBC, aponta ainda que os CIOs disseram que estão migrando dos bancos de dados da Oracle para Microsoft SQL Server, Amazon databases e PostgreSQL.
Na última conferência mundial da Oracle, Elisson resumiu o modelo de negócios da AWS por meio de uma comparação com os carros semi autônomos: “Você entra, você começa a dirigir, você morre”.
É uma alusão a acusação frequente de que a AWS facilita a entrada dos seus clientes na nuvem, mas complica a saída ao ponto de gerar um “lock in”, o que, vamos ser sinceros, é o modelo de negócio de boa parte da indústria de tecnologia no final das contas.