
O debate do futuro da tecnologia no Rio Grande do Sul ouviu uma voz inusitada nesta quarta-feira, 31, com a participação de um representante do Movimento dos Pequenos Agricultores-MPA na audiência pública de discussão do projeto de Parque Tecnológico da Ufrgs.
“A maioria de nós não tem o à tecnologia e me pergunto quais os usuários que serão beneficiados neste processo. Não há recursos para todos, talvez a Ufrgs devesse se preocupar em arrumar a própria casa”, declarou o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores-MPA, Marciano Toledo da Silva.
De acordo com Silva, o viés de pesquisa focado em agronegócio do projeto irá priorizar apenas “um seleto grupo de empresas que consomem os bens da natureza”.
O MPA, juntamente com o MST e outros movimentos, integra a Via Campesina, organização internacional de pequenos agicultores que prega a ação direta como forma de defender os interesses do segmento.
No Brasil, a organização promoveu diversos ataques e depredações a empresas e plantações, justificados pela organização como forma de protesto ou punição a políticas que acredita serem prejudiciais ao campesinato.
Entre outros atos de protesto está o protagonizado em 2006, no Rio Grande do Sul, quando cerca de duas mil mulheres da Via Campesina invadiram e depredaram o horto florestal da Aracruz Celulose, localizado em Barra do Ribeiro, o que resultou em prejuízos de US$ 400 mil para a empresa.
Argumentos em debate
O debate, realizado no auditório da faculdade de direito da Ufrgs, antecede a votação do mérito da implantação do Parque Tecnológico, marcada para o dia 09 de abril.
Além de membros da comissão de implantação do parque e professores da instituição, o auditório foi composto em sua maioria por estudantes defendendo um “parque social, cooperativo, orgânico e com conhecimento para todos”.
O professor José Carlos Frantz, do Instituto de Geociências, destacou aspectos como benefícios econômicos e sociais, as regras para licenciamento de patentes baseadas na Lei de Inovação – que devem beneficiar a universidade -, o apoio às pequenas empresas inovadoras e a necessidade de um espaço que abrigue os jovens empreendedores.
De outro lado, os opositores ao parque reivindicaram a abertura do projeto inicial de implantação e a falta de definição sobre pontos como tratamento às incubadas e às grandes empresas, a questão do “chão de fábrica” e o ônus de seleção das empresas que irão ocupar o parque tecnológico.
A comissão de implantação ainda destacou a criação de uma página no portal da universidade - link relacionado ao final da matéria -, onde podem ser encontradas informações como justificativas de implantação, proposta de localização e cronograma das atividades.
DCE busca apoio ao projeto
O Diretório Central do Estudantes da Ufrgs, ao contrário de uma minoria de estudantes contrária aos termos do projeto e que esteve presente no debate, está empenhado em ações de apoio ao projeto.
Considerada como a primeira da história da universidade a ser ocupada por um grupo de direita, a atual gestão do DCE é composta por estudantes ligados a partidos como DEM, PP, PMDB, PSDB e PDT.
Com o lema “Um DCE para os estudantes, não para os militantes”, o grupo derrotou as outras 3 chapas, formadas por militantes do PSOL, PT e PCdoB, e PSTU, em novembro ado.
Na quinta-feira, 18, a direção do DCE levou o projeto até a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic). A proposta é buscar a implantação do programa de pesquisa e inovação tecnológica com o apoio de entidades como Fecomércio, Fiergs, Farsul, Federasul e Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia do Governo Federal.
”Procuramos a Smic pela experiência na atração de empresas de ponta e na condução de parcerias e projetos igualmente empreendedores como esse do Parque”, afirmou o coordenador do Fórum em Defesa do Parque Tecnológico da Ufrgs, Marcel van Hattem.
O Fórum foi instituído pelo DCE no início de março, é formado por representantes de diversas entidades, e tem o objetivo de promover debates com a comunidade acadêmica.
A polêmica do parque
Um protesto realizado no início de março, encabeçado por estudantes da Ufrgs, conseguiu adiar a votação do projeto de criação do parque tecnológico da universidade, que seria votado pelo Conselho Universitário em 05 de março.
Os estudantes, que possuem 15% de poder de decisão no Conselho Universitário – dos 77 membros do conselho, sete são universitários – mesmo percentual dos funcionários, afirmam que o projeto não previa a participação dos segmentos da comunidade universitária — professores, servidores e estudantes — ou de setores importantes da sociedade civil, como institutos de pesquisa científica e entidades representativas como conselhos profissionais, sindicatos e associações.
A polêmica envolvendo a implantação do parque tecnológico foi notícia no Baguete e pode ser conferida na íntegra no link relacionado abaixo.