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Twitter e Big Blue aliam forças. Foto: divulgação.
O Twitter e a IBM anunciaram nesta quarta-feira, 29, um acordo pelo qual o conteúdo da rede de microblogs poderá ser usado por clientes da Big Blue dentro dos software analíticos e de Big Data da gigante de TI.
No anúncio feito no último dia do IBM Insights em Las Vegas, as empresas destacaram que não se trata apenas de monitorar menções ou analisar o sentimento os usuários.
Os dados do Twitter estarão disponíveis para os desenvolvedores do BlueMix, a cloud para apps de terceiros da IBM.
Além disso, as informações serão integradas a ferramentas analíticas como o Watson e a empresa criará novos aplicativos focados na rede, sendo o primeiro um software para ajudar em ações de engajamento para empresas. Cerca de 10 mil consultores da IBM devem ser treinados.
O Twitter já vinha trabalhando com clientes corporativos nos últimos tempos. A empresa ensaiou aproximações com setores como o de entretenimento (TV, cinema), criou botão específico para compras pelo app, assim como a criação do Fabric, plataforma de criação de apps dedicada para desenvolvedores.
Segundo dados divulgados pela rede social esta semana, o Twitter conta com cerca de 284 milhões de usuários ativos.
Chris Moody, vice presidente de Data Estrategy do Twitter, revelou no evento que a empresa já atende um espectro grande de clientes interessados específicamente em extrair insights do vasto volume de dados da rede.
Sem dar nomes, Moody citou exemplos que iam desde uma grande fabricante de PCs até uma companhia especializada em fritadores industriais usados em redes de fast food.
Em caso que vocês se estejam se perguntando porque diabos uma fabricante de fritadoras quer saber do Twitter, a resposta é que a companhia busca queixas sobre batata frita mal feita para poder despachar técnicos para o local.
“Hoje as empresas só chegaram a arranhar a superfície do que é possível com essas informações”, afirmou em um depoimento gravado o CEO do Twitter, Dick Costolo.
Para o Twitter, a parceria com a IBM é um excelente negócio. A rede social tem enfrentado críticas pela ausência de um modelo de rentabilidade, acentuado ainda mais pelo faturamento de rivais como o Facebook.
"Apesar de sua ubiquidade, o Twitter ainda é um negócio imaturo. Esta oferta mostra que o Twitter tem bem menos usuários e gera menos receita por cliente do que o Facebook", afirmou o Wall Street Journal no final de 2013.
O problema da rentabilização do imenso volume de dados disponibilizado pelos usuários das redes sociais não é único do Twitter.
A diferença é que o acordo fechado pela rede de microblogs vende informação no atacado, para um player focado no meio corporativo, o que deve gerar insatisfação dos usuários e abrir espaços para novos concorrentes que prometam maior privacidade.
O approach contrário, no qual a monetização do usuário é mais evidente para público, tem se provado problemático.
Para a IBM, esse acordo é mais um o da reinvenção da centenária companhia, que nos últimos anos tem feito um movimento para sair do mercado de hardware e se concentrar no novo universo da computação em nuvem, da análise de grandes volumes de dados e da chamada computação cognitiva, com direito a colocar um pezinho no mundo do consumidor final.
IBM e Twitter já vinham trabalhando juntos em outros projetos, sem fazer maior estardalhaço.
Os laboratórios da Big Blue já fizeram pequisas sobre uma base de dados formada por três meses de tweets de 90 milhões de usuários da rede de microblog a partir da qual foi possível segmentar os twitteiros em cinco categorias, no que poderia ser um peixe a ser vendido para empresas de marketing direto.
Durante a Copa do Mundo, software analítico da IBM chegou a avaliar 5 milhões de tweets por jogo de torcedores do Brasil, em uma ação de viés mais marketeiro junto com a Rede Globo.
No seu depoimento gravado, a CEO da IBM, Virginia Rometti, destacou que o negócio era um “marco”, equivalente ao acordo assinado recentemente com a Apple, outra parceria na qual a Big Blue visa alavancar o universo da tecnologia mais B2C para o seu mundo B2B.
“As empresas quiseram ter o ao que o consumidor está pensando desde sempre. Com esse acordo, já não será necessário inferir isso”, afirmou Virginia.
As empresas querem saber o que os seus consumidores pensam. A IBM tem o software para mostrar isso, o Twitter as informações e a necessidade de faturar com elas. Agora é só ver o que os usuários acham disso tudo.
* Maurício Renner cobre o IBMInsight em Las Vegas a convite da IBM.