CORRIDAS

SP e RJ brigam pela F1. Em Porto Alegre, um plano diferente 673o4e

Um empreendedor quer transformar a capital gaúcha em um pólo mundial nacional para carros elétricos. 2o6g5y

01 de julho de 2019 - 13:20
Carlos Martins é um homem com uma obsessão: fazer uma grande corrida de carros elétricos em Porto Alegre.

Carlos Martins é um homem com uma obsessão: fazer uma grande corrida de carros elétricos em Porto Alegre.

São Paulo e Rio de Janeiro, as duas cidades mais importantes no Brasil, travam no momento uma disputa em tons folclóricos pela honra de receber o “circo da Fórmula 1”. 

As regras da disputa são conhecidas: o governo que colocar mais dinheiro público na disputa levará o evento, fazendo ao contribuinte a promessa de retornos tangíveis em dinheiro deixado na cidade por turistas ricos, e intangíveis na forma de divulgação mundial. 

Rio de Janeiro ou São Paulo devem, assim, se unir a outros lugares destacados no cenário mundial como Abu Dhabi, Kuala Lumpur e Baku, cidades cujos governantes colocaram a mão em bolsos profundos para abrigar corridas de F1 nos últimos anos.

Enquanto isso, em Porto Alegre, uma cidade sem condições de participar de uma disputa como essa, um empreendedor solitário está tentando emplacar uma corrida de 24 horas com carros elétricos no coração da capital gaúcha, uma versão de Le Mans para o século XXI.

“Não tem nada mais cafona do que brigar para receber a F1”, brinca Carlos Martins, CEO do projeto Electric-24 (E-24). “Os donos da Fórmula 1, Fórmula Indy e até mesmo a Fórmula E se dedicam a usurpar altas verbas públicas por onde am. Depois que o circo vai embora, muito pouco fica para a cidade. A chance real de uma corrida da F1 no Rio de Janeiro em 2021 é de 1% ou menos”, agrega. 

Martins, um economista que trabalha como consultor de negócios internacionais para governos estrangeiros e chegou a competir no automobilismo amador, tem uma ideia que acredita ser melhor no longo prazo: usar o interesse por automobilismo como uma forma de catalisar atenção em torno do tema carro elétrico e a mobilidade do amanhã.

A ideia é que a E-24 não seja somente uma corrida de carros elétricos que dura 24 horas, mas um teste para as tecnologias de mobilidade elétrica em curso em diferentes universidades e centros de pesquisa, um showroom para os modelos disponíveis e um ponto de networking para o ecossistema por trás do que o empreendedor acredita que será o carro do futuro.

“Já estou conversando com universidades como PUC-RS, Unisinos, Feevale e UFRGS, além de grandes empresas do segmento. A ideia é unir pesquisadores e iniciativa privada em um evento atrativo para o grande público”, resume Martins.

Para formalizar os contatos, está sendo criado um instituto de ciência, tecnologia e inovação batizado de E-24 Mobility Lab. Conhecidas pela sigla ICT, esse tipo de organização sem fins lucrativos funciona como elo de ligação entre empresas e universidade para projetos de pesquisa e desenvolvimento.

O E-24 Mobility Lab será uma espécie de braço de inovação derivado corrida de 24h, mas atuará de maneira independente do evento, e também em outro tipo de projetos, voltados à nova mobilidade de uma forma geral, e não apenas carros elétricos.  

De fato, já existe desde janeiro um grupo de trabalho reunido com apoio do Marcelo Lubaszewski, diretor do Zenit, parque Tecnológico da UFRGS. Está na prancheta um projeto-piloto para  o desenvolvimento de uma versão elétrica do AJR, que é o protótipo de corrida mais rápido do hemisfério sul. 

Pouca gente sabe, mas este supercarro foi desenvolvido e fabricado em Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre, pela Metalmoro/JLM. Este projeto-piloto está sendo coordenada por Paulo Eckert, professor da Escola de Engenharia da UFRGS, com consultoria técnica do Enzo Brocker, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do AJR V8, que compete na Endurance Brasil.

O objetivo desta iniciativa é dar origem a um programa maior, com derivadas tanto para o mercado do automobilismo quanto para a indústria de produção em massa. Martins mantém conversas com a Feevale, onde há projetos ligados à mobilidade elétrica, com perspectivas abertas para um trabalho conjunto com pesquisadores da UFRGS.

No Brasil, o conceito de competição de protótipos é consagrado no mundo universitário, através de projetos como a Fórmula SAE, que todo ano promove uma competição nacional para carros elétricos, movimentando centenas de estudantes do nível de graduação. 

A E-24 pode ser considerada uma evolução do conceito, agora orientado para mestres e doutores em engenharia elétrica e mecânica. 

O formato 24h se ajusta bem para provar duas questões chave para um eventual sucesso futuro do carro elétrico: aumento de autonomia, com mais tempo de sobrevivência da bateria e menor tempo de recarga dos automóveis.

Esses dois problemas podem ser resolvidos por uma miríade de combinações entre software e hardware, além de diferentes equipamentos relacionados aos carros, assim como a habilidade dos pilotos. 

O trajeto ocuparia a região do Parque Maurício Sirotsky, na região central da capital gaúcha.

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“Ao contrário da Fórmula 1, que é apenas um show, a E-24 é efetivamente um projeto de desenvolvimento econômico para geração de empregos e retenção de talentos, especialmente de engenheiros”, projeta Martins. “Porto Alegre pode ter visibilidade internacional como a  cidade que abriga a maior corrida de carros elétricos do mundo”, agrega.

Existe um grande interesse popular por competições de automobilismo. Em novembro do ano ado, 40 mil pessoas abarrotaram as laterais da pista montada na orla do Guaíba para ver manobras de Rubens Barrichello em um carro de F1, em um evento patrocinado pela Heineken.

Martins sonha grande. Eu mesmo vou confessar que a primeira vez que ouvi o plano, há pouco mais de um ano, achei que ele estava louco. Por outro lado, o homem é insistente: ele me falou tanto de carros elétricos que agora o Baguete tem uma editoria sobre o assunto, comandada por Martins. 

Porto Alegre parece estar mais disposta do que nunca a escutar ideias “fora da caixa”, em uma busca por sair do que é percebido por muitos atores importantes da cidade como o fundo do poço.

PUC-RS, Unisinos e UFRGS, as três instituições de ensino mais importantes da capital, fecharam no ano ado uma aliança inédita com propósito de promover o ecossistema de inovação na cidade, ao qual prontamente se uniram 70 entidades de diferentes setores.

Martins está engajado na movimentação dentro do grupo de Nova Mobilidade do Poa Inquieta e o projeto tem o respaldo do comitê executivo do Pacto Alegre. Além disso, o projeto já conta com apoio institucional do Governo do Estado, através do programa MULT-RS, da Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Comunicação, além de outros parceiros que já compraram a ideia. 

O mercado brasileiro já conta com seis carros elétricos disponíveis e é possível começar a falar de uma linha de elétricos no país. Algumas cidades já estão apostando no uso de ônibus elétricos. 

Pelo lado do governo, o Rota 2030, programa que regulamenta a política de incentivos para a indústria automotiva, prevê benefícios fiscais para empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas aos combustíveis fósseis. 

No entanto, ainda está longe de ser definido que região do país vai liderar no tema carro elétrico, que para muitos analistas é o futuro inevitável do automóvel. Martins vê potencial no Rio Grande do Sul.

O estado que já sedia uma montadora (a GM), tem um forte pólo de autopeças na Serra Gaúcha, um pólo petroquímico (importante para novos materiais para produção de carros) e por fim uma indústria de semicondutores (HT Micron e Ceitec) e eletroeletrônicos capaz de produzir os sensores necessários para um carro elétrico.

“O Rio Grande do Sul pode ocupar a vanguarda da pesquisa, desenvolvimento e inovação de novos e melhores componentes, como baterias, motores, softwares automotivos e sensores dos mais diversos tipos. Para isso, temos que aproveitar as potencialidades e o talento que já temos aqui”, aponta Martins. 

No entanto, Martins acredita que o potencial da cadeia automotiva gaúcha esteja sendo devidamente explorada por parte do governo

“Como agente da inovação em tempos de crise, não espero e tampouco dependo de verba pública para avançar meus projetos, mas se apenas houvesse uma sinalização de que a agenda do carro elétrico é estratégica para o estado, já ajudaria muito”, finaliza Martins.

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