
Software dos bombeiros pode ter culpa. Foto: flickr.com/photos/N000@7
Uma investigação da Polícia Civil gaúcha está levantando questões sobre a confiabilidade do Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndio (Sigpi), software que liberou alvará para a boate Kiss, de Santa Maria.
Segundo matéria da Zero Hora, o inquérito conclui que o sistema é "falho, incompleto, simplificado ao ponto de dar primazia à quantidade (de vistorias) em detrimento da qualidade (segurança)".
De acordo com o levantamento, cerca de 121 mil estabelecimentos aram pelo sistema.
Além disso, o relatório foi taxativo em afirmar que as falhas do SIG-PI foram decisivas para colaborar no incêndio na boate, ocorrido em 27 de janeiro.
Criado há oito anos, o software de origem caxiense foi usado pelo Corpo de Bombeiros para integrar o cadastro de prédios vistoriados, mas também para compensar a falta de efetivo, aumentando via software a quantidade de inspeções.
Segundo descrição do Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul, responsável pelo desenvolvimento da ferramenta, o processo é simples.
"O cidadão comparece com as dimensões da futura ou atual área, o risco, o tipo de ocupação, altura da construção e os objetivos do empreendimento. O bombeiro digita as informações no computador e, de pronto, o Sigpi fornece todas as providências que o engenheiro deverá adotar para enquadrar o projeto às normas oficiais de segurança", explica a entidade.
Destinado para a emissão de alvará de prevenção a incêndios para prédios de até 750 metros quadrados e de risco pequeno, o software ou a ser usado indiscriminadamente, segundo a polícia.
A aplicação estaria sendo aproveitada para a liberação de alvarás para prédios de risco médio ou até mesmo maior.
"É nítida a opção pela quantidade. As falhas do Sigpi começam com a eliminação da necessidade de um responsável técnico", disparou o delegado Sandro Meinerz no inquérito.
Com o uso do software, os bombeiros apenas inseriam dados básicos dos prédios do sistema, e mesmo assim concediam os alvarás. Este foi o caso da boate Kiss.
É consenso que o sistema, criado para cortar a burocracia, acabou garantindo agilidade, o que é positivo, mas em detrimento da segurança.
Segundo oficiais que participaram da criação do Sigpi em Caxias do Sul, antes do sistema existir, os bombeiros faziam cerca de 15% a 20% das vistorias necessárias. Com a nova ferramenta, estariam conseguindo contemplar 90% do trabalho.
"É uma excelente ferramenta para prédios simplificados. A partir daí, temos que agregar outras coisas: ART(responsável técnico), que ele não exige, as plantas, que ele não exige. Porque senão fica um negócio muito simples, e tira a responsabilidade do bombeiro. Alguém tem que ser responsável por isso", completa.