
Gilson Paulillo. Foto: Baguete.
O Brasil tem hoje ao redor de 70 milhões de consumidores de energia elétrica, com cerca de 115 gigawatts de capacidade instalados e utilização per capita de 2.201 kilowatt/hora por ano, demanda que vai aumentar 43% até 2020.
Como atender a este crescimento? A resposta está na TI, telecomunicações e automação resumidas no conceito de smart grid.
A afirmação é do Gilson Paulillo, consultor executivo do Instituto de Pesquisas Eldorado, instituição com sede em Campinas e unidades em Porto Alegre e Brasília especializada em estudos focados na área de tecnologia.
“Smart grid é um mundo de oportunidades para as TICs e as empresas de energia. É preciso saber aproveitar este campo tanto para fazer dinheiro quanto para estimular uma distribuição e consumo mais eficientes deste recurso”, afirma Paulillo.
Ele afirma que para atender ao crescimento de 43% na demanda por energia nos próximos sete anos, o Brasil terá de aumentar em 142% seus investimentos na área, o que, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), está projetado para chegar a R$ 951 bilhões só de parte do governo.
Deste quase trilhão investido, que faz parte do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2019), as áreas que mais serão beneficiadas são a de petróleo e gás natural, com 70% dos recursos, enquanto a geração e transmissão de energia elétrica devem ficar com fatia de 22,5%.
Ou seja: o setor precisará dar impulso com as próprias pernas, e nisso o smart grid pode ser o trampolim, segundo Paulillo.
“A China investe em energia o equivalente a um Brasil por ano. Só que eles investem em carvão mineral e são o maior responsável do mundo pela geração de gases de efeito estufa. Nós temos condições de fazer diferente”, destacou o palestrante.
Como “fazer diferente”, ele ressalta que o smart grid muda a estrutura tradicional de fornecimento de energia elétrica, na qual o consumidor é um agente ivo, para um sistema em que infraestrutura, TI, Telecom e automação andam juntas para fazer dele um ativo, que interage com tecnologias de controle de seu consumo e alimenta a inteligência das concessionárias com dados.
“Com investimento em smart grid podemos ter análise de contingência e simulações em tempo real, trabalhar a geração distribuída e contar com proteção digital, monitoramento de equipamentos e gestão de ativos, de demanda e do mercado. São muitos os ganhos para as concessionários”, avalia o especialista.
Conselhos que vêm sendo aproveitados timidamente no Brasil – não são muitas as companhias a divulgarem iniciativas na área.
A Elster, multinacional que atua em gás, energia, água e sistemas implantados, com 3,4 milhões de pontos de smart grid instalados em todo o mundo e centro de desenvolvimento no Brasil, onde atende a 64 concessionárias de energia elétrica, é um exemplo por aqui.
“Temos projetos em parceria com a Neoenergia, com 3,5 mil pontos de terminais de medição inteligentes, e com a Light, somando 120 mil pontos”, comenta o diretor técnico da Elster, Mariélio Silva.
Outra que investe em smart grid no país é a AES Eletropaulo, que só para um projeto desta área destinou R$ 72 milhões para instalação de 60 mil pontos de medição inteligente de consumo de energia.
Também é exemplo a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), que atende a mais de 3,2 milhões de clientes em 184 cidades e implantou uma rede óptica Metro Ethernet, com base na tecnologia Ethernet Ring da RAD Data Communications, que habilitou a empresa a usar medidores eletrônicos de energia, a serem instalados dentro de nove meses.
No Sul, a paranaense Copel anunciou em 2010 um projeto para tornar, até 2014, a capital Curitiba a primeira capital brasileira a ter um sistema de distribuição de energia elétrica totalmente automatizado.
Para tanto, a companhia se baseia também em recursos de conectividade da Copel Telecomunicações para dar sustentação às soluções de smart grid e de o à internet.
Ao todo, o projeto paranaense estimava, quando do anúncio, investimento de R$ 350 milhões até 2014.
No Rio Grande do Sul, a realidade é outra.
A CEEE, companhia que atende à Grande Porto Alegre, Sul, Litoral e região da Campanha do estado, abrangendo 72 municípios, o equivalente a 34% do mercado consumidor gaúcho, não tem projetos correntes divulgados na área de smart grid.
Conforme Sérgio Rahde, da área de Eficiência Energética da CEEE, o que há em andamento são iniciativas como o Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente, em que a companhia atua em parceria com a Eletrobrás, e o Programa de Eficiência Energética, com ações voltadas ao consumo responsável em áreas como iluminação, climatização, aquecimento solar, entre outras.
Outro projeto é um trabalho levado a cabo em parceria com a Ceasa/Senai para produção de energia a partir da queima de resíduos gerados pela central de abastecimento.
A iniciativa está em fase de de contrato, e a Ceasa entrará com a doação de um terreno onde será construída a planta de geração de energia, na forma de Biogás, e um triturador.
Já o Senai vai atuar no desenvolvimento de um tipo de bactéria apropriada ao clima gaúcho para ampliar a capacidade de produção de gás a partir do lixo.
Este projeto incorpora o conceito de geração distribuída, incluso na biblioteca do smart grid, e, nos dias atuais, é o mais próximo que a CEEE divulga sobre o tema.
Já no que tange a investimento em infraestrutura para dar conta da demanda crescente nos próximos anos, a CEEE investiu R$ 147 milhões em redes de distribuição, linhas e subestações só em 2012.
Além disso, a empresa já tem contratadas obras no valor de R$ 83 milhões, em subestações e linhas de subtransmissão, que totalizarão cerca de R$ 230 milhões de recursos destinados à expansão do sistema elétrico para a Copa do Mundo.