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O Senado da Austrália está preparando um “super relatório” sobre os efeitos das loot boxes no país, que deverá ser anunciado no dia 27 de novembro. A notícia correu na mídia especializada internacional, pois já é a segunda vez que a data de anúncio foi adiada.
O relatório recebeu mais questões do que era esperado e a comissão australiana recebeu informação da autoridade de jogo da Holanda sobre a forma como tem enfrentado essa situação, o que poderá alterar o resultado final.
De acordo com o Kotaku, o adiamento é causado por esse excesso de informação é pela vontade de criar um relatório final o mais detalhado possível, e não por algum problema ou falta de meios para chegar a conclusões.
Relembre a polêmica
As loot boxes viraram assunto de polêmica a nível internacional durante 2017, principalmente durante o segundo semestre. Diversos relatórios bem detalhados denunciavam um número crescente de adolescentes e jovens adultos gastando demasiado dinheiro em alguns videojogos. O sistema de loot box era apontado como o culpado e acusado de funcionar de forma desleal (ainda que não ilegal).
Grande parte dos principais videojogos estava incluindo uma funcionalidade que oferece itens randomizados aos jogadores, que podem ser estéticos (como “skins”) ou mesmo para melhorar suas performances no jogo (como armas mais poderosas).
O problema está no pagamento necessário para ter o a esses itens, que não funcionava como uma compra e venda mas sim como um sorteio. O jogador paga, joga e, se tiver sorte, terá seu prêmio. Se não tiver sorte, ficará sem o prêmio e sem o dinheiro.
O funcionamento é determinado por uma probabilidade (“odd”) e concretizado por um software RNG (“Random Number Generator”, ou Gerador de Números Aleatórios), que determina na sorte quais os jogadores que receberão os prêmios. A “odd” é definida previamente pela empresa desenvolvedora.
Como se pode ver, o funcionamento é demasiado parecido com o de uma máquina caça-níquel como se pode encontrar no Vera & John e outras plataformas de cassino online. E com uma situação mais grave ainda: é que em um cassino online só podem jogar maiores de idade (essa é a regra, observada e respeitada, pelas maiores plataformas de cassino a nível mundial), e além disso o jogador que vai em um cassino está bem informado sobre o que está procurando.
Pelo contrário, em um videogame o usuário quer se divertir e não está ali para conseguir um prêmio que pode nem ser fundamental para seu jogo. Além disso, muitos jogadores são menores de idade.
Europa e Estados Unidos
Vários países europeus tomaram medidas. A Bélgica foi dos primeiros a apelar à União Europeia para tornar esse negócio ilegal e, já em 2018, avançou mesmo para a proibição legal. As desenvolvedoras foram forçadas a retirar suas loot boxes para o mercado belga, mesmo protestando e afirmando que seguiriam lutando por seus direitos na justiça.
Mas nem todas seguiram esse exemplo. Outras preferiam retirar voluntariamente suas loot boxes para evitar a fúria e as críticas de seus usuários; alguns comentaristas afirmaram que esses eram casos em que a desenvolvedora não estava vendo futuro na funcionalidade para os jogos em questão e aproveitava para jogar bonito.
De qualquer forma, se é verdade que a 2K (do jogo 2k19) tentou revidar e apelou a seus fãs para contatar o governo belga e mostrar que as loot boxes não têm nada de mal, é também fato que europeus e americanos não vão parar ainda. As autoridades de jogo de 15 países membros da União Europeia e a autoridade do estado americano de Washington se uniram para desenvolver um entendimento e uma visão comum sobre esse problema. As desenvolvedoras deverão enfrentar mais desafios.
O caso australiano
Na Austrália, o caso tem conhecido especial destaque por conta da ação de um senador muito especial. Jordon Steele-John, um senador de apenas 24 anos, tem dinamizado a ação do parlamento daquele país e denunciado o que considera ser um problema bastante grave. Ele foi um dos principais alvos de uma grande investigação de um dos maiores jornais australianos sobre o tema, e falou de imediato que os políticos deveriam fazer algo.
Em suas palavras, ele defendeu que seus colegas do Senado (muitos com idade para serem seus pais) ficaram “no tempo do Pacman” e não estão entendendo direito os problemas que podem acontecer com o desenvolvimento da tecnologia. Steele-John é, ele próprio, um gamer, e por isso sabe bem do que está falando.
E o Brasil?
Em nosso país, talvez por muitas outras questões serem mais urgentes que essa, praticamente ninguém fala sobre o assunto. Contudo, nos fóruns e outros locais da internet é fácil encontrar gamers e usuários dando sua opinião sobre o tema. Será que não estaria na hora de as autoridades olharem o que está acontecendo nos Estados Unidos, Austrália e Europa e tomarem sua posição?