
Bernard Amadei.
Os inovadores do mundo estão perdendo dinheiro ao focar 90% do seu esforço para os 10% da população mundial que pode adquirir produtos e serviços caros, ao invés de buscar um público muito maior nos países em desenvolvimento, oferecendo opções mais baratas e ganhando na escala.
Esse é o pitch de vendas de Bernard Amadei, presidente da Engenheiros Sem Fronteiras, ONG com 12 mil associados em 45 países – incluindo o Brasil, onde a ESF é liderada pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e a USP, em São Paulo.
“Não estou falando de caridade. Se trata de se dar bem fazendo o bem”, afirma Amadei, citando a frase atribuída a Benjamin Franklin, um dos fundadores da Estados Unidos. [O homem da nota de US$ 100 disse “Doing well by being good”].
De acordo com estudos citados por Amadei, um dos keynotes do Solid Edge University, evento da Siemens PLM iniciado nesta terça-feira, 24, em Cincinatti, nos Estados Unidos, existe um mercado de US$ 202 bilhões e US$ 503 bilhões para soluções médicas e energéticas de baixo custo no mundo.
Algumas companhias já estão de olho na oportunidade em países como a Índia, onde estão presentes grandes empresas, mas também grandes níveis de pobreza.
Dos 1,2 bilhão de indianos, 32,7% vivem com menos de US$ 1,25 por dia, abaixo da linha de pobreza, e 68,7% vivem com menos US$ 2, de acordo com dados do Banco Mundial.
A GE, por exemplo, lançou uma máquina de eletrocardiogramas que custa US$ 800, o que, no longo prazo, permite oferecer exames para pacientes no país a um custo de US$ 1.
O conglomerado Tata já vende um filtro de água de US$ 22, o que pode garantir 3 mil litros de água limpa, suficinente para as necessidades de uma família de cinco pessoas por 200 dias.
No Brasil, os projetos da ESF se concentram em Viçosa, cidade de 73 mil habitantes distante 230 km de Belo Horizonte, nos quais as iniciativas se concentram em parcerias da UFV com a prefeitura e organizações da cidade.
A conexão acadêmica é parte da origem da organização: Amadei é um professor de engenharia civil na Universidade do Colorado, e começou o projeto como uma atividade extra-curricular com alunos.
Algumas iniciativas envolvem o treinamento de instituições locais como o hospital e ONGs em sistemas de gestão e medição de resultados. Uma delas envolve a contrução de painéis solares baratos em uma comunidade carente.
“Temos que pensar em soluções para pessoas cujo trabalho é sobreviver dia a dia. Só eletricidade pode fazer uma grande diferença: milhares morrem todos os anos por intoxicação da fumaça resultante de cozinhar com lenha dentro de casa”, exemplificou Amadei.
* Maurício Renner cobre o Solid Edge University em Cincinatti a convite da Siemens PLM.