
Humberto Barbato esteve em Porto Alegre para falar com associados
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, declarou nessa quinta-feira, 28, que não acredita nas promessas de instalação da chinesa Foxconn no Brasil.
Cerca de quinze dias atrás, o CEO da companhia, Terry Gou, disse à presidente Dilma Rousseff que investiria US$ 12 bilhões numa unidade da empresa no país, criando 100 mil postos de trabalho.
“Alguém acredita? Eu não acredito!”, declarou Barbato, em agem por Porto Alegre nessa quinta-feira, 28, onde falou a associados da entidade.
Essa não é a primeira vez que as cifras chinesas levantam suspeita.
Além da Abinee, que manifestou preocupação de que o anúncio seja uma manobra para influenciar o governo ao decidir sobre importações do país asiático, na mesma semana, a ISA Distrito 4, coligada à International Society of Automation (ISA), especulou que a fábrica produziria “mais do que displays”, afetando o mercado local.
Reclame intercontinental
Segundo Barbato, o barulho feito pela indústria, momentos depois do anúncio, foi ouvido na China.
“O ministro (Mercadante), lá na China, ligou e disse: “acalmem o Barbato”, que quando eu chegar vou explicar todo o projeto pra ele. Desde que ele chegou, já tentei falar com ele quatro vezes e não consegui”, protesta Barbato.
Um dos problemas apontados é com a criação de 100 mil vagas, meta tida pela Abinee como inflada. “O nosso setor, como um todo, cria 175 mil postos de trabalho diretos”, enfatiza Barbato.
As 100 mil vagas da Foxconn no Brasil representariam um acréscimo de 11% na atual força de trabalho da empresa em nível mundial.
A viabilidade do modelo de produção da Foxconn no país também é posta em dúvida pelos empresários brasileiros.
Entre janeiro e novembro de 2010, 18 funcionários da empresa na China se suicidaram e a imprensa internacional divulgou más condições de trabalho, jornadas extensas e salários minguados.
Em resposta à onda, a companhia contratou psicólogos e aumentou o salário de seus empregados nas fábricas chinesas.
De acordo com relatos da mídia, um colaborador asiático da Foxconn trabalha cerca de 11 horas por dia, recebendo US$ 1 por hora.
Promessas diluídas
Condições de trabalho à parte, a cúpula do governo veio a público rebater as críticas.
“A Foxconn é uma empresa enorme. Para nós, 100 mil empregos é muito, mas para ela não. Além disso, trata-se de um processo longo de investimentos”, afirmou recentemente ao Valor Econômico o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
Em Porto Alegre, Barbato ironizou os planos de longo prazo dos chineses: “Se me disserem que são 100 mil empregos em 20 anos eu nem sei se vou estar vivo pra conferir”.
O valor do investimento também deixa os empresários em alerta. Segundo especialistas, uma fábrica com as tecnologias mais modernas de produção custa cerca de US$ 3 bilhões.
Um dos casos que extrapola essa margem foi o anúncio da Intel, maior fabricante de chips do mundo, que comunicou nesse mês investimento de US$ 5 bilhões até 2013 para construir uma nova fábrica nos Estados Unidos.
“Com US$ 12 bilhões dá pra fazer quatro fábricas no Brasil”, disse Barbato.
Balança desfavorável
No encontro, também sobrou para o governo. Segundo a entidade, os efeitos da política cambial sobre o setor são perceptíveis no aumento das importações de bens de consumo no Brasil, que aram de 15,9%, em 2005, para 21,6%, em 2010.
Além disso, oi câmbio também tem segurado as exportações de bens finais elétricos e eletrônicos, com perda de representatividade no faturamento total – 20,4% para 10,8% nos últimos cinco anos.
Para Barbato, falta ação por parte de Brasília.
“Proposta é o que não falta. Eu vou tanto a Brasília que a minha mulher deve pensar que eu tenho amante por lá. Agora, o governo tem que nos ouvir. Além disso, que história é essa de tratar bem o novo investimento e não fazer nada pelo que já tá aqui dentro?”, protesta o dirigente.
Segundo a Abinee, o déficit da balança deve chegar a US$ 33,4 bilhões em 2011, ano em que a indústria elétrica e eletrônica deve ter faturamento de US$ 139,7 bilhões, alta de 12% sobre o ano ado.
A Foxconn, uma das maiores fabricantes de aparelhos eletrônicos do mundo, fatura US$ 100 bilhões, exporta cerca de US$ 86 bilhões ao ano.