
EnSilica projeta semicondutores. Foto: Pexels.
A EnSilica, uma multinacional inglesa de design de semicondutores, está abrindo uma operação em Porto Alegre, de olho em ex-funcionários do Ceitec, estatal brasileira do setor que está em processo de liquidação e deve cortar boa parte do pessoal.
Até o final do mês, devem ser contratados 12 profissionais, número que pode subir para 30 em três anos.
Quem liderou a abertura da EnSilica na capital gaúcha foi Júlio Leão, profissional que atuou pelos últimos oito anos no Ceitec na área de patentes e era um dos líderes da mobilização dos funcionários da estatal para manter a continuidade das operações.
Pelos seus esforços, Leão recebeu a distinção de ser o primeiro demitido no Ceitec pelo capitão de fragata reformado Abilio Andrade Neto, encarregado de fechar a estatal pelo governo federal, numa decisão com cara de retaliação.
Já fora do Ceitec, Leão preparou uma apresentação com a qualificação de alguns dos funcionários demitidos na estatal e enviou para 60 empresas do setor de semicondutores, obtendo resposta de nove e finalmente fechando negócio com a EnSilica.
Diferente do Ceitec, que tinha como meta produzir semicondutores, a EnSilica é o que se chama de “design house”, fazendo o projeto, validação e venda dos produtos, com a fabricação propriamente dita é terceirizada.
Esse foi também o modelo de atuação do Ceitec durante boa parte da sua existência, antes da conclusão das obras da fábrica hoje instalada na Lomba do Pinheiro.
As projeções de contrações em Porto Alegre são significativas, tendo conta que a EnSilica, fundada em 2001 tem 120 funcionários em seus escritórios em Oxford e outros centros de projetos no Reino Unido e em Bangalore, na Índia.
O foco da EnSilica são projetos de circuitos integrados para indústria automotiva e as áreas de saúde e consumo.
“O problema não é só de falta de semicondutores no mercado, faltam também profissionais para projetá-los”, destaca Leão, revelando que há planos para instalação de outra empresa do setor na capital gaúcha.
Potenciais funcionários não devem faltar. Hoje, o Ceitec tem 160 colaboradores, boa parte deles altamente qualificados, muitos dos quais regressaram ao Brasil atraídos pela possibilidade de trabalhar na sua área no país de origem.
Leão é representativo desse perfil, tendo uma experiência de cinco anos e meio em empresas do setor em San José, na Califórnia, um título de doutor pela belga IMEC e um pós-doutorado pela Universidade de Berkeley, na Califórnia.
Segundo os planos do governo, devem ficar 48, a serem transferidos para uma organização social encarregada de istrar as patentes geradas (esse grupo pode, é claro, optar por pular do barco). A OS deve ser selecionada até o começo de 2022.
Uma OS é um tipo de associação privada, com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, que recebe subvenção do estado para prestar serviços considerados de relevante interesse público.
Elas podem receber dotações orçamentárias, isenções fiscais ou mesmo subvenção direta, para a realização de seus fins.
No caso da OS que istrará o Ceitec, essa verba está definida em R$ 20 milhões anuais por quatro anos.
No final de quatro anos, a OS deverá garantir autonomia financeira “de fontes públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras”.
Inicialmente, o orçamento previsto era de R$ 30 milhões, conforme os estudos prévios, mas Brasília cortou o valor. Desde 2009, quando da federalização da estatal, foram investidos R$ 800 milhões no Ceitec.