
Rinoceronte, o simpático bichinho no logo da Duratex. Foto: Pexels.
A Duratex acaba de fechar uma grande migração para o S/4 Hana, o novo sistema de gestão da SAP, junto com um pacote de produtos na nuvem da multinacional.
O projeto foi entregue pela Cognizant no final de 2020 e foi um dos destaques da divulgação de resultados da SAP para o Brasil.
Além do S/4, foi implementado o SAP Cloud Platform e dois softwares na nuvem: o Ariba, para gestão de compras, e Concur, para gestão de viagens corporativas, dois softwares na nuvem que são apostas da SAP.
O ambiente SAP da Duratex já tinha mais de uma década.
O projeto de implementação anterior foi fechado pela então M Braxis no final de 2007 e anunciado na época como “uma das maiores implantações de SAP em curso no país”, com previsão de durar dois anos.
A Duratex tem uma gama ampla de operações, incluindo presença nos segmentos de painéis de madeira, louças e metais sanitários, chuveiros elétricos e revestimentos cerâmicos, com marcas como Deca, Hydra, Ceusa, Durafloor, Duratex e Portinari.
Nos últimos anos, a companhia vem investindo em um viés mais tecnológico. Em 2017, a Duratex inaugurou a área de negócios digitais, na época com 80 funcionários.
Uma das primeiras criações foi um dispositivo de IoT voltado para instalação em chuveiros inteligentes, o Deca Smart Link. O novo produto tem tecnologia de Internet das Coisas da AWS embarcada.
No estudo de caso falando do tema, a AWS revela que estava no projeto uma migração para a nuvem (dela, é claro) do ERP da SAP. Na sua divulgação, a SAP não chega a dar detalhes da infraestrutura escolhida pela Duratex.
Seja como for, a migração para o S/4 de uma grande empresa como a Duratex, com ações listadas na bolsa e uma receita líquida de R$ 5 bilhões em 2019 é uma ótima notícia para a SAP.
A gigante alemã está em uma cruzada para fazer clientes como esses migrarem para o novo S/4, rodando na nuvem.
Na semana ada, a empresa anunciou o “RISE with SAP”, visando acelerar essa migração com condições especiais.
A estratégia teve um investimento de tecnologia. Nesta semana, a SAP comprou a Signavio, uma startup alemã criadora de um software de controle de workflows, o que pode ser útil no contexto do Rise With SAP.
Não foi revelado o valor do negócio, mas segundo a Bloomberg a SAP pagou US$ 1,2 bilhão pela empresa, que tem clientes como a própria multinacional alemã, a Deloitte e gigante de seguros Mutual.
CONTEXTO
A SAP vem enfrentando resistência dos clientes a migrar para o S/4 desde o lançamento do produto, em 2015, por uma combinação de fatores.
O novo ERP roda em um banco de dados em memória, o que é um investimento adicional, e rodar software na nuvem requer abandonar uma série de customizações que as empresas desenvolveram ao longo do tempo.
A SAP reconheceu a situação em fevereiro de 2020, ao anunciar uma prorrogação da manutenção das aplicações da família Business Suite 7, conhecidas no mercado como ECC, até o final de 2027, aumentando assim em dois anos o prazo inicialmente estabelecido para 2025.
Além dos dois anos a mais de manutenção normal, ou mainstream, no jargão interno da SAP, a empresa também se comprometeu a manter a chamada manutenção estendida até o final de 2030.
A decisão aliviou a pressão sobre os clientes para migrar para o S/4, porque o fim do e ao ECC significaria um aumento de preços para seguir rodando os sistemas.
As idas e vindas não são de hoje. Em 2016, apenas um ano depois do lançamento, a SAP criou o chamado Value Assurance, outro modelo comercial destinado a estimular a migração para o S/4.
A diferença agora é que a situação é outra e a SAP está mais pressionada do que nunca para fazer acontecer a migração para a nuvem dos clientes.
Em outubro, a poderosa DSAG, associação que reúne 3,7 mil empresas usuárias de SAP na Alemanha, Áustria e Suíça, divulgou que o impacto do coronavírus nos negócios das associadas levou 43% delas a atrasar ou deixar em stand by por tempo indefinido os projetos S/4.
Os atrasos nos projetos refletiram no faturamento e na opinião do mercado sobre a empresa. Em outubro, depois de anunciar a segunda redução na sua previsão de faturamento em 2020, as ações da SAP levaram um tombo de 23%.
No final das contas, a receita da SAP em 2020 caiu 1%, para € 27,3 bilhões. A receita de cloud subiu 17%, mas com € 8 bilhões ainda está longe de ser significativa.
Hoje, o número total de clientes S/4 Hana chega a 16 mil, uma alta de 16% em 2020, mas apenas 8,7 mil estão rodando o software (uma parte compra as licenças como um investimento).