
Elon Musk quer reduzir o custo de fabricação de baterias em 56%.
Quem esperava um lançamento bombástico no Battery Day, evento da Tesla organizado nesta semana, se decepcionou. Não foi anunciada uma super-bateria, tampouco uma nova tecnologia revolucionária.
O tom do evento foi de redução de custo e melhorias incrementais. Quase tudo ainda por fazer. Prazo de execução: três anos. Para os fãs da marca, foi uma boa notícia. Para operadores da bolsa, um terror. O imediatismo do mercado fez as ações caírem no dia seguinte.
Mas para quem acompanha de perto a pesquisa e desenvolvimento de baterias ou trabalha com engenharia industrial, o Battery Day foi bem interessante. Elon Musk detalhou o plano de como pretende reduzir o custo de fabricação de baterias em 56%. Não custa lembrar que as baterias são a parte mais cara dos carros elétricos atuais.
Em síntese, o plano é verticalizar a fabricação. Ao fim e ao cabo, a Tesla está entrando de cabeça no negócio de fabricação de células de bateria, antes relegado a parceiros fornecedores como Panasonic, LG e CATL.
Por isso, chacoalhou toda a cadeia de valor e diz que vai eliminar do processo tudo o que não for necessário. Promete reduzir o tamanho das fábricas de baterias em 10 vezes e produzir o dobro.
Para dar conta da meta ambiciosa de atingir a marca de 3TWh por ano, a verticalização começará pela extração dos minerais essenciais para a produção. Parcerias com mineradores de ferro e níquel dos EUA foram estabelecidas. Segundo consta, o material bruto das mineradoras será entregue nas fábricas da Tesla e o processamento químico será feito em casa. Haja transporte de pedra para tudo isso.
O polêmico lítio, cujas maiores reservas comprovadas ficam na Bolívia, ará a ser extraído do quintal da fábrica no estado de Nevada por uma equipe própria. O cobalto, outro metal polêmico por conta da sua extração na República Democrática do Congo, deixará de ser empregado na composição.
Por fim, a empresa também montará sua própria unidade de reciclagem de baterias. Segundo Musk, obter metais de baterias usadas tem um custo-benefício melhor do que minerar o metal da terra.
Ainda que ambicioso, o plano é factível. Aprendemos a não duvidar mais das empreitadas do Elon Musk, que vem entregando o que promete. A diferença é que agora a Tesla é líder de mercado no seu segmento, além de ser a montadora mais valiosa entre todas.
Já fabrica mais de meio milhão de carros por ano e tem fábricas na China e brevemente na Alemanha.
Empresas grandes tendem a ficarem mais lentas. O desafio da Tesla, agora, é provar que pode continuar crescendo exponencialmente mesmo depois de ter atingido a maturidade.
* Carlos Martins é Diretor Executivo do E-24 Mobility Lab e idealizador da primeira corrida de carros elétricos do Brasil. Escreve para o Baguete sobre temas relacionados com indústria automobilística e mobilidade.