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Marcos Pontes, durante visita recente ao Ceitec. Foto: Ministério de CIência e Tecnologia.
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, afirmou em nota divulgada pelo ministério que “não existe decisão ou confirmação de que a Ceitec será liquidada pelo governo federal”.
A informação de que o Ceitec será fechado e todos os 200 funcionários demitidos até março foi divulgada nesta quarta-feira, 09, pelo jornal Estado de São Paulo.
A defesa do novo ministro de Ciência e Tecnologia da estatal federal de processamento de dados pode ser considerada algo morna: ele não chega a dizer que a continuidade do Ceitec está garantida, ou mesmo que ele a defenderá.
A nota informa apenas que Pontes esteve no Ceitec, onde “conheceu o potencial da empresa”, a partir do qual teria iniciado com sua equipe “a análise técnica de viabilidade do projeto”.
Segundo o Estadão, a liquidação do Ceitec deve ser aprovada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), colegiado formado por ministérios e bancos públicos, além da Presidência da República, em uma reunião em fevereiro.
A decisão de eliminar o Ceitec replica um padrão dos primeiros dias do governo Jair Bolsonaro. Uma medida é revelada pela imprensa, ou, em algumas ocasiões, diretamente pelo presidente, gerando uma reação contrária e um eventual recuo.
A questão é saber se a defesa morna do Ceitec feita por Pontes, ou mesmo um eventual reforço da sua posição no assunto será suficiente para garantir a continuidade do estatal ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
Até agora, o governo recuou em assuntos de alta visibilidade, como uma eventual transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, novas regras para material pedagógico ou questões tributárias.
O caso do Ceitec é bem outro: produto da política industrial das istrações petistas para o setor de semicondutores, a estatal é o tipo de empresa deficitária que é alvo declarado do super ministro da Economia, Paulo Guedes.
Guedes nomeou o fundador da locadora de veículos Localiza, Salim Mattar, para a secretaria-Geral de Desestatização e Desimobilização com o objetivo de fechar e vender empresas estatais.
O Ceitec existe por meio de subsídios de Brasília, que totalizam desde 2008 a cifra R$ 1,08 bilhão, dos quais R$ 400 milhões foram na construção e outros R$ 680 milhões em outros investimentos e custeio.
A empresa acumulou só R$ 16 milhões de receita desde 2012, quando começou a vender chips. O prejuízo acumulado desde 2009 é de R$ 42,6 milhões.
Pontes tem uma certa dose de prestígio no novo governo: esteve entre os quatro primeiros ministros nomeados e tem uma carreira na aeronáutica chegando a ser astronauta.
Por outro lado, Pontes provavelmente estava fazendo uma visita de cortesia e talvez prefira gastar seu capital político em outras empreitadas com potencial melhor do que um enfrentamento direto com a turma da tesoura no governo por uma empresa com pouca visibilidade.
Mesmo durante as istrações petistas, que federalizaram a estatal em 2008, colocando-a sob a alçada do Ministério de Ciência e Tecnologia, já havia discussões mais ou menos abertas sobre o propósito de seguir investindo.
Em 2013, foi discutida publicamente a possibilidade de venda de parte de empresa, deixando o governo como sócio de uma PPP gerida pela iniciativa privada.
Ainda em 2009, no entanto, o então presidente do Ceitec, Eduard Weichselbaumer, disse publicamente que a empresa só seria bem sucedida se fosse privatizada.
Weichselbaumer, um executivo alemão que foi o único profissional vindo da iniciativa privada para comandar o Ceitec, acabou saindo da empresa em 2010, em meio a choques com o Ministério de Ciência e Tecnologia.
A reportagem do Baguete procurou Weichselbaumer pelo Linkedin na semana ada, para saber que perspectiva ele via para o futuro do Ceitec. O alemão, que segue residindo em São Francisco, onde atua no setor de eletroeletrônica, não teve papas na língua.
“É uma vergonha o que foi feito com o Ceitec nos últimos 10 anos. istrar uma empresa não é tarefa para burocratas, professores universitários ou funcionários de ministério que querem um grande salário por nada. Essa é uma indústria especializada e altamente competitiva”, disse Weichselbaumer. “Sem um plano viável, essa instituição só pode ser fechada”.