Roberto Carlos Mayer

A grave crise econômica que o Brasil vem enfrentando afeta de forma crescente empresas e trabalhadores, a ponto de se transformar na maior recessão da história brasileira, está sendo acompanhada pela tramitação do impeachment da presidente da República na Câmara dos Deputados. Diversas entidades de classe têm se manifestado nas últimas semanas, expressando apoio ou repúdio ao processo de impeachment em curso. O manifesto conjunto publicado pelas entidades de TI: ABES, Assespro, Brasscom e Fenainfo há poucos dias, optou pela defesa do “respeito incondicional ao Estado Democrático de Direito”. Logo fizeram-se ouvir vozes acusando esse manifesto de ‘subida ao muro’.

É preciso esclarecer, neste ponto, que as entidades representativas do setor de TI congregam milhares de empresas, nas quais atuam profissionalmente cidadãos que, de forma individual, possuem posições políticas antagônicas, por vezes ocupando cargos de liderança, convivendo de forma pacífica.

A Assespro Nacional (Federação das Associações das Empresas Brasileiras de TI), em nome do Setor de TI, persiste na sua responsabilidade em realizar um grande evento internacional inédito no Brasil, que acontecerá entre 3 e 5 de outubro deste ano, em Brasília: o Congresso Mundial de Tecnologia da Informação (conhecido pela sigla em inglês, WCIT = World Congress on Information Technology – www.wcit2016.org).

Esse compromisso foi assumido, em nome do Brasil, durante a edição de 2012 do mesmo Congresso, ocorrido em Montreal (Canadá), muito antes da crise em nosso país. A situação mudou nos anos seguintes, e o êxito da edição brasileira do WCIT, primeira a ocorrer na América do Sul em toda a história desse evento, cuja primeira edição ocorreu em 1978, depende do apoio de todos os setores da sociedade, incluindo as entidades do próprio setor, organizações civis, empresas, profissionais, e do governo.

No caso específico da Assespro, por exemplo, seu estatuto rege, logo no seu primeiro artigo, que se trata de uma “sociedade civil de direito privado, de âmbito nacional, sem fins lucrativos e político-partidários”.

Esse fato não impede que a entidade tenha atuação política: o artigo terceiro declara como finalidade principal da entidade “representar, patrocinar e defender os interesses gerais das empresas de tecnologia da informação, bem como, agir buscando consolidar e disseminar o uso da tecnologia da informação como fator preponderante para o desenvolvimento do Brasil”.

Essa aparente contradição entre a atuação política setorial e o não envolvimento da entidade na política partidária também é assunto detalhado no capítulo 19 do livro “Juntos somos Mais”, da Assespro, que aborda também o tema “como lidar com candidaturas políticas”.

Por isso, reafirmamos o interesse do setor de TI de que tanto a crise política quanto a econômica possam ser superadas o mais rapidamente possível. Os continuados esforços para realizar o WCIT 2016 são a nossa maior contribuição ao país neste cenário conturbado. Esses esforços não podem e não devem depender nem ser misturados com os interesses de nenhum partido político, nem nos momentos de bonança, nem nos de crise.

* Gerino Xavier e Roberto Carlos Mayer são vice-presidente e diretor de Comunicação da Federação das Associações das Empresas Brasileiras de TI (Assespro Nacional).